




Fundamento de cultura e de civilização, “O livro” é o tema central da Electra 28. Extensão da memória e da imaginação, filho da obscuridade e do silêncio, produto do trabalho e do divertimento, lugar de continuidade e de ruptura, móbil de fogueiras acesas e motivo de censuras e perseguições, objecto que atravessa séculos de história, moldando sociedades e modos de pensar, mas também uma entidade que ultrapassa suportes físicos e encarna a memória, o saber e o imaginário individual e colectivo, o livro tem transportado consigo, ao longo dos séculos, a substância do tempo e a vertigem da vida. Este é um tema que, mais do que nunca, exige uma compreensão profunda das suas múltiplas dimensões: materiais, culturais, históricas, políticas e simbólicas. Neste dossier são reunidos textos e entrevistas de diversos especialistas, como Roger Chartier, Robert Darnton, Rita Luís, John B. Thompson, Adam Garfinkle e David Ramada Curto, que analisam a história do livro e da sua difusão, desde a invenção da imprensa até ao livro digital, incluindo as transformações do mundo da edição, os impactos da censura, a literacia e os modos de ler.
Miriam Cahn, considerada uma das artistas mais activas e influentes da actualidade, é a autora do portfólio desta edição. Com exposições nos mais prestigiados lugares da arte contemporânea, Cahn é a criadora de uma vasta obra (pintura, desenho, fotografia, escultura, instalação), na qual as grandes questões e causas do nosso tempo (feminismo, ecologia, pacifismo, guerra, populações vulneráveis) ganham forma e figura com uma intensidade e força que, não raro, assumem a postura do combate e do protesto. Este portfólio, preparado pela artista suíça para a Electra, é representativo dos seus trabalhos sobre papel dos últimos trinta anos.
O nome de Emir Kusturica desperta tanto admiração como polémica. Foi um dos realizadores de cinema mais premiados e controversos dos anos 90. Fiel a si mesmo, Kusturica falou para a Electra numa entrevista rara, conduzida pelo jornalista italiano Andrea Prada Bianchi, em que comenta a sua obra e a sua visão do mundo actual, num tom provocador e desafiante que muitos consideram difícil de aceitar. A conversa aconteceu na Sérvia, durante o festival de cinema de Küstendorf, e decorreu numa viagem de carro, contada como se fosse um capítulo de um romance.
Ainda nesta edição, a reconhecida escritora Brenda Lozano faz uma evocação do lugar onde nasceu, a Cidade do México; o ensaísta e romancista Christian Salmon reflecte sobre a matriz política de um neofascismo emergente; o realizador Francisco Noronha revisita o percurso biográfico e artístico de Jean-Luc Godard; o professor e poeta Giancarlo Consonni aborda o tema do desaparecimento da cidade histórica, da regressão da urbanidade e da degradação da beleza urbana; António Guerreiro interpreta uma citação do escritor Stéphane Mallarmé; o poeta José António Almeida comenta a «Declaração Fiducia supplicans sobre o sentido pastoral das bênçãos», aprovada pelo Papa Francisco; e Diogo Vaz Pinto escreve sobre podcasts.
A nova edição da Electra é apresentada na sétima edição da Drawing Room, feira especializada na valorização do desenho contemporâneo, que se realiza na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa.
A Electra é media partner da Representação Oficial Portuguesa na 60. ª Exposição Internacional de Arte – La Biennale di Venezia 2024, que tem como tema "Estrangeiros em Todos os Lugares".
A Electra está presente na edição inaugural da Lisbon Art Book Fair, que se realiza no Museu de Arte Contemporânea / Centro Cultural de Belém, em Lisboa, nos dias 21 e 22 de Setembro.
O sociólogo italiano Vania Baldi, autor do ensaio Entre inconsciência artificial e Machina sapiens, publicado na edição 25 da Electra, foi entrevistado pelo jornal Público.