A palavra «arquitectura» é dita em português, mas sabe falar o grego antigo (e depois aprendeu latim), pois aí encontra a origem e os fundamentos dos dois termos que etimologicamente a compõem: arkhé (principal, mestre) e tékhton (construção, construtor, obreiro). Deste modo se vê que, na palavra «arquitectura», há o sentido de dirigir os operários (hoje, muitos diriam: liderar), sendo o arquitecto aquele que os dirige (lidera).

«Quando fui para Harvard, as pessoas achavam que a habitação social não era arquitectura», lembra o arquitecto Alejandro Aravena nesta entrevista dada, para a Electra, à arquitecta e investigadora Ana Vaz Milheiro. Distinguido com o Prémio Pritzker, em 2016, é conhecido mundialmente pela originalidade da sua obra, na qual a relação entre arquitectura, habitação, sociedade e natureza assume uma importância capital. Nesta conversa, pontuada por temas que têm estado presentes na actividade plural que tem desenvolvido, Aravena fala também da experiência de projectar e construir em Lisboa.

O movimento woke, ou, para utilizarmos uma designação mais adequada, a injunção woke, é um grito de guerra que convocou para o espaço público formas de luta e antagonismos de um novo tipo onde se investem posições exacerbadas. Embora de maneira serena, os dois textos em confronto nesta secção participam dessa divisão: o da escritora e filósofa belga Véronique Bergen, que vê no wokismo um desejo legítimo de emancipação que, no entanto, «cai no seu contrário», e o de Carolina Flores, filósofa portuguesa, investigadora na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, que faz o processo da crítica anti-woke.

Ócio, lazer, trabalho, tempo livre, entretenimento: estes conceitos e figuras, em torno dos quais se construiu o dossier temático que aqui apresentamos, formam uma constelação habitada por muitas tensões a que o nosso tempo imprimiu um certo movimento. Há oposições que desapareceram ou foram substituídas por outras; há expansões e posições triunfantes, é o caso do lazer, como seria de esperar numa sociedade que colocou o trabalho no seu centro e expulsou o ócio, como quem erradica um vício ou um mal. Actualmente, as actividades que eram filhas do ócio (as artes, a literatura, as ciências, a filosofia, etc.) foram assimiladas ao trabalho e, portanto, recaem sob o seu regime. A relação com o tempo acelerado e o triunfo da forma mercadoria, até ao ponto em que o próprio lazer foi completamente capturado por ela, determinam em grande parte as modalidades e o estatuto do lazer na nossa época. Ao mesmo tempo, o entretenimento programado e obrigatório monopolizou extensos territórios da cultura e tornou-se uma tarefa que prolonga aquelas que recaem na categoria do trabalho. O que é uma prova de que se dissolveram, ou pelo menos enfraqueceram, as fronteiras entre algumas destas entidades.

«Estudiosos e especialistas consideram Gadda um autor clássico do século XX, ombreando, no panorama internacional, com gigantes como Proust, Musil, Joyce, Pessoa, Céline, Nabokov ou Beckett», lembra-se aqui. É sobre o grande escritor Carlo Emilio Gadda, que nasceu em Milão em 1893 e morreu em Roma em 1973, que escreve Lucca Mazzocchi, falando da sua obra, labiríntica e complexa, e da recepção dela. Professor nas universidades de Milão e de Oxford, Mazzocchi é especialista em literatura italiana do século XX, tendo estudado sobretudo a obra de Gadda, um autor que existe para ser descoberto.

Com esta «entrega», os fotógrafos e editores André Príncipe e José Pedro Cortes continuam a série concebida para a Electra, que iniciaram com Hisham Mayet, em Tânger, e prosseguiram, no Cairo, com Youssef Rakha. Desta vez, conversaram longamente com o grande fotógrafo francês Bernard Plossu, na casa dele, em La Ciotat. Depois, apanharam um barco para a ilha de Córsega. Numa conversa que se tornou muito íntima, falam da vida, de viagens, da paixão do deserto, do tempo que passa, de fotografia, de fotógrafos, de livros de fotografia e também do trabalho que Plossu fez em Portugal. A dado passo, ouvimos Plossu dizer: «E é verdade, os bons fotógrafos dançam. E, provavelmente, a arte mais próxima da fotografia não é o cinema nem a literatura, é a dança. Um bom fotógrafo é gracioso.» Tal como a dança e a fotografia, esta conversa é uma forma de dar às pessoas e às coisas um movimento e uma luz que as levem além delas.

Há algum tempo, o Papa Francisco falou da homossexualidade e as suas palavras provocaram comentários diversos e desencontrados. José Manuel dos Santos retoma aqui a declaração papal, dando-lhe a perspectiva histórica que permite considerá-la como um sintoma do estado actual da Igreja.

Ann Cotten é uma poeta e ensaísta austríaca, nascida nos Estados Unidos, com a obra, reconhecida pela sua originalidade e pluralidade, publicada na prestigiada editora alemã Suhrkamp. Aqui, a escritora apresenta-nos Steyr, uma «cidade estatutária» da Alta Áustria, que tem o nome de um dos seus dois rios. Ao sabermos por que caminhos chegamos lá, começamos a perceber o que vamos encontrar, numa associação da natureza poderosa com a memória histórica e cultural e com o património fabril e industrial. Neste texto, em que a precisão impessoal das informações objectivas se alia a um olhar pessoal e subjectivo, é-nos dado o retrato de uma terra que Ann Cotten visitou para encontrar amigos que «são esquiadores eméritos e têm na montanha uma cabana para as caminhadas de Verão e um chalé para os desportos de Inverno».

Numa conversa com o crítico e curador de design Frederico Duarte, o designer gráfico, investigador e professor holandês Ruben Pater fala dos seus livros e da sua concepção do design como prática de cidadania. Neste «Metropolitano», trata-se da aproximação do design às disciplinas que nos ajudam a compreender melhor o nosso lugar e o nosso papel na cidade (ou na polis).

Neste «Furo», damos a conhecer vinte e um desenhos inéditos de Gonçalo Pena. Na sua obra, que alia intensidade, abundância e movimento, o artista anota a sua presença no mundo e capta o reflexo do mundo em si. Os desenhos deste fértil criador de imagens e signos são tirados de um ininterrupto caderno de desenhos. Estas exclamações falam-nos com clareza e enigma dos aristotélicos três reinos da natureza: animal, vegetal e mineral. São como marcas deixadas no tempo que passa, dando testemunho do olhar móvel de Gonçalo Pena. A imaginação das imagens é a sua maneira de se pôr à altura do que acontece.

Sobre o vastíssimo volume que reúne toda a obra crítica de Joaquim Manuel Magalhães, ao qual deu um singelo título descritivo, Poesia Portuguesa Contemporânea, escreve o crítico literário e investigador de história da arte João Oliveira Duarte, enfrentando o labirinto.

Uma pessoa chega ao seu destino depois de uma longa jornada e depara-se com um obstáculo. Posto mesmo entre a pessoa e o seu devir, um enorme corpo rochoso, peso plúmbico, arranha-céus. Não é contornável. Para que o supere, é inevitável que convoque o prefixo trans-, aquele que catapulta, ignora fronteiras e penetra obstáculos. O prenúncio das metamorfoses.