Se a mercadoria parece «à primeira vista» uma coisa evidente, já a análise dir-se-ia ser uma segunda visão que a liberta da sua falsa, auto-evidente (selbstverständlich) simplicidade: destrói assim aquele selbst, a pretensão de autonomia, para descobrir que ela remonta a um acumular de imbróglios metafísicos e teológicos.

É uma escritora com um enorme capital de prestígio, mas que permaneceu sempre minoritária, impermeável aos processos e estratégias de construção pública do escritor. A sua obra de ficção narrativa é um marco fundamental na história da literatura portuguesa do último meio século: combina uma dose de experimentalismo com as grandes referências da literatura moderna. A figura da escritora Maria Velho da Costa ergue-se, plena de distinção, na nossa paisagem literária.

Da viagem elitista de outrora à viagem democratizada pelo turismo de massa, há uma longa história, traçada aqui por um geógrafo que segue o tempo longo do fenómeno turístico e acompanha o surgimento de fenómenos e conceitos que, muitas vezes, tendemos a pensar que são uma criação do nosso tempo. Segundo Álvaro Domingues, a questão fundamental do turismo, hoje, é o «jogo» do capital global nas geografias urbanas.

Contrariando, com forte pendor polémico, as ideias mais comuns sobre o turista, que o representam geralmente como uma figura ridícula e grotesca, o sociólogo e etnólogo Jean-Didier Urbain, autor de L’ idiot du voyage: histoires de touristes, critica os argumentos dos detractores do turismo e atribui-lhe a condição de verdadeira experiência da viagem, no nosso tempo, que não merece ser desclassificada.

Entre todas as modalidades de turismo, algumas inventadas com muita imaginação, nenhuma se presta tão fortemente a uma análise ideológica como o chamado «turismo ético», para o qual serve uma nova palavra: «volunturismo». Eis um apreciável contributo, a quatro mãos e excêntrico em relação a campos disciplinares, para uma crítica ideológica do turismo ético.

Para este arquitecto e investigador da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, os enormes efeitos do turismo sobre a cidade contemporânea podem ser analisados com os instrumentos de uma teoria crítica da economia política, revelando a figura e a lógica da cidade neoliberal.

O sector económico do turismo, com a sua dimensão global e integrando todos os domínios de produção de riqueza, tem conhecido uma expansão incomparável com qualquer outro sector. Na economia do turismo, só há números astronómicos e impactos gigantescos que Álvaro Matias, economista e investigador, autor de estudos sobre o turismo publicados em revistas científicas, analisa como conquistas positivas e benefícios imprescindíveis.

Da viagem de lazer e iniciação dos jovens da nobreza, a que se deu o nome de «Grand Tour», ao turismo de massa do nosso tempo, há uma diferença que o teórico do urbanismo Thierry Paquot sublinha de maneira enfática, partindo da ideia de que o passeio turístico já nada tem a ver com o conceito de viagem e defendendo que é urgente interromper o movimento crescente do turismo mundial.

O turismo é também um discurso, com os seus lugares-comuns que é obrigatório visitar. Uma viagem pelo seu léxico mais representativo poderia ser guiada pelas referências que se seguem, por ordem alfabética.

No ano do bicentenário do nascimento de Karl Marx, o historiador José Neves evoca a complexa herança que o filósofo nos deixou, aquela que não resistiu ao tempo e aos percalços da história política e económica. E fala daquela que permanece actual e muitas vezes de tal modo integrada na linguagem corrente e nas representações do mundo político e social que parece que somos todos mais ou menos marxianos, mesmo que não sejamos marxistas.