Tornar presente Friedrich Nietzsche no começo do que escrevemos é sempre tentar olhar o que estamos a ver com olhos mais sábios e mais desmedidos, menos obedientes e menos habituais do que os nossos.

Cada vez mais, as nossas cidades são cidades acústicas. Os espaços públicos mais vastos ou mais íntimos, são palcos onde o som está presente como actor. John Bingham-Hall é o director de Theatrum Mundi, fundado pelo grande sociólogo e urbanista Richard Sennet, e trabalha com Gascia Ouzounian, co-directora de Recomposing the City, no projecto Acoustic Cities. Neste «Metropolitano», falam do seu trabalho e dos temas fundamentais do urbanismo sónico. Entre eles, da cidadania sónica, da arqueologia sónica e da «justiça sónica como um direito a aceder ao silêncio, ou, até mesmo, a fazer ruído». Uma nova audição da cidade que fundamenta uma nova visão da cidade.

Há livros que nos convidam a trazermos até nós a sua actualidade feita de observação astuta e de imaginação audaz — uma actualidade erguida sobre a terra firme da lucidez e a pedra forte da previsão. E assim sabemos que essa actualidade, que tanto nos surpreende e até nos encanta, não é um acaso ou uma sorte ou um acidente. É uma forma aguda de inteligência criadora que se aproxima da verdade que cada tempo rouba aos tempos seguintes para ser mais ele no que ainda não é, mas começa já a ser.

Giancarlo Consonni, poeta e professor emérito de Urbanística na Faculdade de Arquitectura do Politécnico de Milão, escreve sobre um tema que atravessa alguns dos seus livros: o desaparecimento da cidade histórica, a regressão da urbanidade, a degradação da beleza urbana. O seu último livro é quase um manifesto: Non si salva il pianeta se non si salvano le città.

A geógrafa suíça Joëlle Salomon Cavin, professora na Universidade de Lausanne, retoma neste artigo um tema que tem sido o seu objecto de investigação privilegiado: a hostilidade em relação à cidade, no contexto suíço, inscrita numa história e numa cultura, mas que a covid-19 fez emergir com maior força.

Para este arquitecto e investigador da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, os enormes efeitos do turismo sobre a cidade contemporânea podem ser analisados com os instrumentos de uma teoria crítica da economia política, revelando a figura e a lógica da cidade neoliberal.

A entrevista que aqui publicamos com Yves Cabannes centra-se num conceito que já tem cento e vinte anos, mas que ganhou nos últimos tempos, tanto por efeito da pandemia como das alterações climáticas, uma grande actualidade: o conceito de «cidade-jardim». Este urbanista e especialista do planeamento urbano tem contribuído para a reactivação deste conceito, especialmente através de um manifesto em favor das cidades-jardim do século XXI, que publicou em 2014 com Philip Ross.

Em 2020, Adam Garfinkle, ensaísta e politólogo americano, publicou um artigo na National Affairs que tinha como título «The erosion of deep literacy». Foi sobre a questão da «literacia profunda» que convidámos o antigo editor da revista The American Interest a escrever este ensaio para a Electra.

O co-director da revista Multitudes, Yves Citton, partindo de uma distinção entre velocidade e aceleração, na linha do Manifesto Aceleracionista, de Alex Williams e Nick Srnicek, que ele traduziu para francês, vê no colapso, e não na crise perene em que vivemos, a única hipótese de uma mutação desejável. Deste ponto de vista, a única estratégia à altura do nosso tempo, consiste em acelerar o colapso.

No «Metropolitano» desta edição, o arquitecto italiano Martino Tattara reflecte sobre a forma como as cidades têm respondido às crises habitacionais. Analisando, com uma visão assumidamente radical, a relação entre propriedade e habitação, dá testemunho da sua experiência na construção da habitação colectiva, realizada pelo atelier Dogma. Em Berlim, Veneza, Londres ou Chicago, Tattara tem participado nos mais relevantes fóruns internacionais de debate dos grandes temas que desafiam o urbanismo e a arquitectura contemporânea.