O trabalho, e o futuro do trabalho, são os temas do dossier do décimo número da revista Electra. O trabalho é uma questão maior do nosso tempo: é o que está simultaneamente em falta e em excesso, nesta época em que as tecnologias da inteligência artificial substituem os humanos e lhes retiram os empregos, ao mesmo tempo que a vida dos empregados é cada vez mais subtraída pelo aumento do tempo de trabalho e pela perda de autonomia. Este dossier, que aborda o tema sob perspectivas muito diversas, conta com a colaboração de André Barata, Yann Moulier-Boutang, António Guerreiro, Helen Hester, José Nuno Matos, Jason Read e Nick Srnicek.
Na secção «Primeira Pessoa» desta edição são publicadas duas entrevistas: a Carlo Ginzburg, em que o reconhecido historiador italiano recorda o seu percurso intelectual e o que o tornou um dos nomes mais importantes da historiografia contemporânea, e a Philippe Sands, uma das figuras de referência do direito internacional, que nos fala do mundo contemporâneo, dos seus males e ameaças, das acções judiciais contra as alterações climáticas e das mudanças criadas pela pandemia de Covid-19.
O Portfolio da Electra 10, intitulado Unseen Teen, e constituído por imagens da juventude «invisível» dos EUA, é da autoria de Alec Soth, um dos maiores fotógrafos norte-americanos da actualidade. O fotógrafo e o seu trabalho são apresentados pelo crítico e curador Sérgio Mah.
O «Livro de Horas», da autoria da encenadora, dramaturga, escritora e poeta sérvia Jelena Bogavac é um diário, escrito a partir de Belgrado, num tempo em que a pandemia de Covid-19 tomou conta de tudo. Na secção «Registo» a historiadora de arte Nicola Hille interpreta o gesto do chanceler da República Federal da Alemanha, Willy Brandt, quando em visita ao Gueto de Varsóvia, no dia 7 de Dezembro de 1970, depõe uma coroa de flores em memória dos judeus assassinados na Segunda Guerra Mundial e se ajoelha. Ela fala-nos do impacto desse insólito momento e interroga a sua actualidade e validade no nosso tempo.
Na décima edição da Electra, o historiador da psicanálise, investigador e antigo director do Museu Freud, Michael Molnar faz um perfil de Edward L. Bernays conhecido como «o pai das relações públicas», da manipulação de massas e o inventor do marketing e da propaganda moderna; o arquitecto italiano Martino Tattara reflecte, com uma visão assumidamente radical, sobre a forma como as cidades têm respondido às crises habitacionais; o neurocientista Sebastian Dieguez comenta uma passagem do romance A Peste, de Albert Camus; o filósofo e professor Viriato Soromenho-Marques aborda o conceito de «sustentabilidade»; o sociólogo Alessandro Dal Lago, um italiano do Norte que foi viver para Palermo, faz um retrato desta cidade barroca, mas onde se sobrepõem muitas épocas históricas; Yves Michaud, filósofo e crítico de arte, e Salvatore Settis, historiador de arte e arqueólogo, discutem a questão da restituição das obras de arte à sua origem.
Na secção «Folhetim» publica-se a segunda parte da colaboração entre o escritor Gonçalo M. Tavares e o grupo de artistas-arquitectos Os Espacialistas, e na secção «Obras Escolhidas», a investigadora e curadora Margarida Mendes escreve sobre a exposição Earthkeeping / Earthshaking – Arte, feminismos e ecologia, e o crítico de arte José Marmeleira revisita uma exposição do artista português Pedro A.H. Paixão.