O mercado neoliberal apresenta-se como um cosmos, uma ordem, na medida em que governa as condutas individuais e apela por isso a uma antropologia. Assim, ele actualiza a concepção de que o homem nunca será o patrão do seu destino e pressupõe que tudo é quantificável e, portanto, sujeito ao governo do algoritmo: esta é a tese que Dario Gentili, filósofo, professor na Universidade Roma Tre, autor, entre outros, do livro Crisi come arte di governo (uma genealogia do conceito de crise), desenvolve neste texto.

A actual guerra na Ucrânia, provocada pela invasão russa, é o motivo que incita Viriato Soromenho-Marques a recuar a um outro conflito bélico, a Primeira Guerra Mundial, para analisar os discursos nacionalistas e de euforia guerreira cultivados no ambiente cultural e intelectual alemão.

A moderna obsessão com as idades da vida produziu não apenas a juventude e as representações dela, com as suas mitologias, mas também a velhice. Trata-se de uma produção cinemática da vida, muito ao gosto dos totalitarismos, escreve José Bragança de Miranda com o olhar crítico e treinado na decifração dos hieróglifos do tempo presente e das suas manifestações.
 

— Gooooooolo!

Este grito, que dentro de si mesmo ecoa e se prolonga até ser capaz de parecer inextinguível, não tem cessado de atravessar o mundo, desde que, em 22 de Janeiro de 1927, se ouviu no primeiro relato de futebol, transmitido pela BBC para levar o jogo a casa dos ingleses.

Yves Michaud, filósofo e crítico de arte, e Salvatore Settis, historiador de arte e arqueólogo, discutem um tema que tem hoje uma grande actualidade: a questão da restituição das obras de arte e «peças importantes» à sua origem. O primeiro, numa perspectiva antropológica, demonstra que há uma enorme complexidade nessas operações e que elas acabam muitas vezes por estar ao serviço de uma concepção dos museus como espaços de propaganda chauvinista; o segundo, tomando como exemplo os mármores que Lord Elgin levou do Partenon no início do século XIX e que estão no British Museum, mostra como há muitos equívocos e uma longa história que é preciso conhecer para perceber o que está em jogo nas reivindicações de repatriação.

A filósofa italiana Donatella Di Cesare, autora, entre outros, de um livro, já editado entre nós, O Tempo da Revolta, veio a Portugal em 1975 para assistir à revolução em curso que tinha tido uma grande repercussão em Itália. Quase meio século depois, presta o seu testemunho dessas «férias revolucionárias».

A abjecção, com os seus efeitos de violência sobre o espectador, tornou-se a matriz de uma tendência do cinema contemporâneo. Trata-se de formas de representação que, no seu excesso, funcionam como instrumentos de tortura. E esse excesso coloca problemas não apenas estéticos, mas também éticos e políticos.

Uma afirmação de Noel Gallagher, antigo vocalista dos Oasis, é aqui comentada pela investigadora de comunicação política Susana Salgado, advertindo-nos que, neste tempo de «sobre-democratização do individual», «as emoções tomam precedência sobre os factos».

Foi como se a Velocidade, de que o «Assunto», já há muito previsto e anunciado, desta edição trata, se tivesse transformado na imagem da nossa perplexidade e na medida da nossa distância às coisas. Este número de Electra estava pronto para ser impresso quando a vida se tornou outra. Subitamente, o espaço fechou-se e o tempo trocou-se, puxando rapidamente o amanhã para hoje e levando lentamente o hoje para amanhã.

Martin Jay é professor emérito na Universidade da Califórnia, em Berkeley, e a sua extensa obra, cruzando diversas disciplinas, abarca a área da teoria crítica da cultura, da filosofia, da sociologia, da cultura visual. Autor de um livro sobre o uso da mentira na política, The Virtues of Mendacity: On Lying in Politics, é precisamente desse tema que trata este artigo.