Neste ensaio, a investigadora e arquitecta suíça Isabella Pasqualini olha o espaço urbano como um lugar à procura do seu próprio lugar, onde a tecnologia encontra a subjectividade para gerar novas objectividades. Esta experiência intelectual e sensorial, individual e gregária, real e virtual, inscreve-se na genealogia das utopias geográficas, das mitologias culturais e das arquitecturas imaginárias dos que conceberam cidades ideais. Visto a esta luz móvel e mutável, o espaço urbano torna-se um palco de performances sucessivas e simultâneas — lugar de criação contínua, que cria aqueles que o criam. Por isso, aqueles que o vivem são verdadeiramente aqueles que nele vivem.

Um verso de Goethe, citado de passagem por Hannah Arendt num ensaio sobre Brecht, onde a filósofa analisa de maneira muito crítica os efeitos do empenhamento político e ideológico do poeta nalguns dos seus poemas e peças, é aqui objecto de um comentário — por José Maria Vieira Mendes, membro do Teatro Praga, autor de peças de teatro, de ensaios e de um muito singular diário (Arroios. Diário de um Diário, Dois Dias, 2015) — que não podia ignorar a mediação de Arendt.

Esta entrevista a um cientista português, um imunologista de renome internacional, é uma conversa de vastos horizontes, conduzida por Vasco M. Barreto, investigador na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Nela se fala do percurso e das responsabilidades oficiais que António Coutinho assumiu, entre as quais se destaca a de director do Instituto Gulbenkian de Ciência, mas também se fala sobre questões teóricas da filosofia da ciência e do processo científico e sobre as questões pragmáticas de uma política para a ciência.

Apresentada em França, no Museu da Occitânia, a exposição de Lourdes Castro, comissariada por Anne Bonnin, foi uma revelação, tendo sido «recebida com espanto e entusiasmo». É isso que, nesta memória descritiva e crítica, nos diz João Pinharanda. Partindo da exposição e do itinerário nela proposto, este curador e historiador de arte abre novas perspectivas no modo como olhamos uma obra tão original e subtil, envolvente e fugidia. Feita de luz e de sombra, ela surge como se estivesse suspensa no espaço e no tempo. Melhor: como se estivesse suspensa entre o espaço e o tempo. É essa eternidade do instante que faz da sua contemporaneidade um fascinante enigma visual e um insinuante mistério poético.

Longamente esperada, a publicação do quarto volume da História da Sexualidade, de Michel Foucault, vem acrescentar uma nova problemática às anteriores: os debates teológicos em torno do sexo nos primeiros séculos do cristianismo. Historiador de arte e crítico literário, João Oliveira Duarte, neste texto, coloca em destaque a importância concedida por Foucault à noção de desejo e de sujeito de desejo para a interrogação cristã sobre a sexualidade.

(definição 1, marcha lenta)

Como recolocar no mundo as palavras demasiado gastas? Pensemos, no meio de infinitas hipóteses, em golpes que são dados por duas outras palavras: sedução e coragem. O desafio que seduz — e quem aceita o desafio seria um ingénuo seduzido. Ou o lúcido corajoso que escolhe o obstáculo, o inimigo.

Avancemos desde já uma posição clara, que as duas epígrafes sintetizam. A primeira, mais problemática, escrita numa Europa à beira da Grande Guerra, implica que corpo-mente-agir devem tender para um ideal humano de integridade (o «porte íntegro» de que fala também Ernst Bloch); a outra (proveniente de um clássico do pensamento, escrito no final dessa guerra) propõe que a arte não está acima (nem abaixo) de uma consciência ética, que a beleza não serve de álibi para a barbárie ou para formas de pensamento que a legitimem.

Os grandes livros não são amados. Os seus autores ainda menos, à partida. Os grandes escritores não são amados. Os seus livros ainda menos, depois. Sobre os primeiros pesa sempre a suspeita de que revelam uma liberdade demasiado grande. Sobre os segundos, a suspeita de que são eles quem se permite uma tal liberdade. Uma liberdade que, tanto para uns como para outros, livros e autores, jamais será suficiente. O que permite explorar todas as possibilidades da própria liberdade. É isso que assusta (que produz «hostilidades », diz Bernhard).

Nesta entrevista, Vandana Shiva, uma das mais conhecidas activistas ambientais dos nossos tempos, fala-nos sobre o seu trabalho em prol da agricultura orgânica, tanto na sua Índia natal como a nível global. Defende o imprescindível papel das mulheres para uma economia cuidadora, humana e ecológica, assim como a necessidade de lutarmos contra a distorção do significado original das palavras, fruto da linguagem do mercado e da colonização.
 

François Hartog, o historiador francês a quem se deve os conceitos fundamentais de «presentismo» e «regimes de historicidade», traça neste texto as principais etapas de uma história da aceleração, a partir dos alvores da modernidade até ao momento «presentista» em que vivemos, aquele para o qual só existe o tempo de um presente contraído que determina o triunfo do «curto prazo».