Hisham Mayet é uma daquelas figuras que podem dar à literatura ou ao cinema personagens que não conhecem o esquecimento. Nascido na Líbia e educado no Reino Unido e nos EUA, faz do mundo o seu caminho incessante. Vivendo entre a realidade e a ficção dela — ou entre a ficção e a realidade dela —, as suas memórias, os seus gestos, os seus actos, as suas obras atravessam muitos tempos e muitos espaços, muitas mudanças e muitas miragens.
Cineasta, fotógrafo, editor, investigador, Músico, escritor, criador, aventureiro, viajante, cidadão de todos os lugares, com tudo o que diz e com tudo o que faz, ergue uma vida vivida contra a vida vulgar. Pela sua conversa, passam a arte e a política, o eu e o outro, o interior e o exterior, o passado e o futuro, o aqui e o além.
Nessa semana, Hisham estava em Tânger. Os fotógrafos e editores André Príncipe e José Pedro Cortes foram ao seu encontro para ouvi-lo contar a sua vida e acompanharam essa narrativa de um ensaio visual para este Número de Electra. Falaram com este grande conversador durante horas e ficaram a saber que o fascínio sentido por ele tinha uma razão de ser ainda maior do que aquela que imaginavam. Esta é uma entrevista--retrato-reportagem feita, com atenção e avidez, na Primeira Pessoa. Lê-la é ouvir uma voz medida (e modulada) por muitas vozes — e é olhar uma imagem misturada (e miscigenada) com muitas imagens.