Com um imenso impacto social e político e reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho em defesa da agricultura biológica, Vandana Shiva é talvez a mais conhecida activista ambiental dos nossos tempos. Nas últimas décadas, destacou-se pelo seu inabalável compromisso na luta contra os organismos geneticamente modificados e o uso de produtos químicos na agricultura, o que a levou a enfrentar, com enorme coragem, algumas das mais poderosas empresas multinacionais da actualidade — entre as quais a Monsanto, a Cargill e a Bayer. No centro do seu trabalho encontra-se a ideia de liberdade das sementes, convicção que engloba dois aspectos fundamentais: o direito da natureza a desenvolver os seus próprios caminhos e o direito dos agricultores a produzir sementes independentemente dos OGM e dos químicos das grandes empresas. A sua luta trava-se contra a «biopirataria», termo que usa para se referir à pretensão das empresas de patentear as sementes e, por conseguinte, de patentear a vida.
A actividade de Vandana Shiva passa por acções de formação e intervenções em congressos, sendo também consultora para as questões relacionadas com agricultura biológica junto de governos e ONG. O seu trabalho visa a preservação do conhecimento indígena, a promoção e conservação de sementes nativas e o comércio justo. Com uma firme filosofia antiglobalização, o seu compromisso com a soberania do ambiente e da alimentação assume várias formas — desde publicações (contando já com mais de vinte livros) até à criação de bancos de sementes na sua Índia natal através da Navdanya, organização que criou. Graças ao seu empenho político, Navdanya foi uma das três organizações que no ano 2000 venceram uma longa batalha no Instituto Europeu de Patentes contra a biopirataria de neem (árvore autóctone do subcontinente indiano da qual se extrai o óleo de nim) por parte do Ministério da Agricultura dos EUA e da empresa WR Grace. A esta vitória seguiram-se outras, como a contestação, em 2001, da patente da empresa americana RiceTec sobre o arroz Basmati e a revogação da patente detida pela Monsanto sobre uma variedade de arroz chamada Nap Hal.
Reconhecendo a natureza global dos problemas ambientais e a necessidade de uma atitude colaborativa para responder aos desafios actuais, tem como um dos seus maiores objectivos a criação de redes que ponham em contacto os pequenos movimentos ambientais espalhados pelo mundo — tarefa que leva a cabo através da plataforma Seed Freedom e da organização do BHOOMI Earth Festival, que se realiza anualmente.
Mas o trabalho de Shiva tem ainda outra dimensão, revelando uma forte ligação às mulheres e ao feminismo. O seu primeiro livro, Staying Alive (1988), analisa a marginalização das mulheres no que respeita à violação da natureza no Terceiro Mundo, tendo aberto caminho para um duradouro compromisso com a educação e os direitos da mulher. A este livro seguiu-se um relatório para a FAO sobre as mulheres e a agricultura, intitulado Most Farmers in India are Women. Aprofundando a relação crucial entre as mulheres e o ambiente, Shiva escreveu, em co-autoria com a socióloga alemã Maria Mies, o livro Ecofeminismo (1993). Este é um livro de referência, um dos mais importantes debates teóricos sobre o sistema de domínio e exploração tanto da natureza como das mulheres pelas forças hegemónicas do capitalismo e sociedade patriarcal.
Nesta entrevista, Vandana Shiva falou-nos das suas principais preocupações e de como as suas experiências de vida a levaram a ser activista.
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