Um dos pensamentos a que Paul Valéry deu forma de aforismo é aqui objecto de interpretação e comentário de Cristina Fernandes, que na sua escrita (podemos lê-la no blog «Bicho Ruim», que mantém com Rui Manuel Amaral, e em breve num livro anunciado com o título C de C, nas edições Flop) também cultiva a prosa breve.

Com Les contes cruels de Paulo Rego, a grande pintora portuguesa é a primeira artista a ter, em vida, uma exposição individual no Musée de L’Orangerie, amplamente notada pela imprensa e louvada pela crítica. Foi também esta a primeira grande oportunidade para os franceses verem de frente uma obra que apenas tinham espreitado. É sobre a história (e a psicologia) da relação dos franceses com esta obra e a sua violência que o historiador e crítico de arte João Pinharanda nos fala, acercando-se de um enigma que talvez agora possa começar a ser desvendado. A decifração desse enigma é um contributo insubstituível para revelar melhor tanto a pulsão de uma obra como o recalcado de uma cultura.

Nome: Paulo Nozolino. Profissão: fotógrafo. Podemos começar pela simplicidade desta ficha biográfica para a seguir entrarmos, conduzidos por esta entrevista, no «laboratório» deste artista de vocação nómada, atravessador de fronteiras, radicalmente avesso aos lugares serenos e às imagens tranquilas que lhes correspondem.

Por circunstâncias biográficas, o historiador de arquitectura e escritor Paulo Varela Gomes foi durante mais de uma década um habitante e observador do campo e da vida no campo. Essa experiência ofereceu-lhe abundante matéria de reflexão e foi para ele, desde sempre mergulhado nas questões e na cultura da cidade, um desafio teórico importante, como se pode perceber nesta passagem de um dos seus textos onde ocorre esta problemática.

Uma exposição de Pedro A.H. Paixão, na Galeria 111, em Lisboa, no primeiro semestre de 2020, é aqui revisitada pelo crítico de arte José Marmeleira. Em Aurora. Desenhos e Outros Materiais, este artista que reside em Milão, prossegue um trabalho, tão consistente nos seus resultados como na reflexão teórica que o anima, num confronto com disciplinas canónicas da história da arte, como o desenho e o retrato.

Pedro Costa é um «autor», num sentido muito mais radical do que aquele a que a noção de «cinema de autor» alude. Os seus filmes são feitos de uma matéria que transborda de realidade e de pessoas que emergem como figuras exemplares que atravessam o nosso tempo. O prestígio e a reputação internacionais deste cineasta que tem acumulado prémios internacionais, embora fazendo um percurso muito singular e solitário que não admite etiquetas colectivas, muito têm contribuído para uma irradiação do «cinema português». Esta entrevista é uma incursão no seu trabalho e em tudo o que o envolve.

Philippe Descola, que teve como mestre Claude Lévi-Strauss, com o qual fez o seu doutoramento, é uma figura central da Antropologia desde que publicou Par-delà nature et culture. A tese que desenvolveu nesse livro teve e continua a ter uma enorme repercussão, mesmo para além do seu campo disciplinar. Os novos tempos, de crítica do etnocentrismo europeu, tornaram-se muito favoráveis a uma recepção triunfante dos seus trabalhos.

Professor em prestigiadas universidades, em Londres e Harvard, e advogado de renome mundial no domínio dos direitos humanos, com uma presença regular no Tribunal Penal Internacional de Haia, Philippe Sands é uma das figuras de referência do direito internacional. Nas últimas décadas, interveio nos processos político-jurídicos mais relevantes, desde a detenção de Pinochet à condenação de Milosevic. É colaborador regular do Financial Times, New York Review of Books, Guardian, Vanity Fair, CNN e BBC. Autor do aclamado livro Estrada Leste-Oeste: As origens do genocídio e dos crimes contra a humanidade, assinou também o documentário da BBC A Minha Herança Nazi: O que os nossos pais fizeram. Numa entrevista exclusiva, dada a Afonso Dias Ramos para a Electra, Philippe Sands fala-nos do mundo contemporâneo, dos seus males e ameaças, das acções judiciais contra as alterações climáticas e das mudanças criadas pela pandemia da covid-19. Tendo o livro de que é autor como fio condutor, conversa também sobre as origens familiares, a sua vida, a sua acção profissional, cívica e humanitária, as causas que defendeu e defende. Idealista-realista, fala do futuro como aquilo que está em aberto e depende de nós.

O dinheiro é ao mesmo tempo a coisa mais evidente e a mais difícil de perceber: este paradoxo é formulado e explicado por Anselm Jappe, o autor, entre outros, de A Sociedade Autofágica (Antígona, 2018), que nos mostra de onde vem essa dificuldade. Sendo uma mercadoria, o dinheiro tornou-se a mercadoria suprema, a mercadoria única, o fetiche por excelência, causa de uma ordem completamente irracional, capaz de produzir desastres inauditos como aquele que se deu em 2008.

Manuel Gusmão faz neste livro um exercício intempestivo: traz para o interior da sua poesia uma forte dimensão política, interventiva e militante, onde ecoa o canto heróico de alguns poemas de Brecht. Mas, por outro lado, a complicar as coisas, A Foz em Delta, justificando o título, desagua também noutra direcção diferente, sinalizada por características elegíacas.