Ângela Ferreira foi pioneira ao trazer para a arte contemporânea alguns temas e motivos que hoje estão omnipresentes e fazem mover o debate cultural. Ocupando-se, há mais de três décadas, no seu trabalho, das questões do passado colonial, do presente pós-colonial e do futuro que agora começa a desenhar-se, mantém grande consistência e coerência na sua produção artística, que, por isso, tem obtido reconhecimento nacional e internacional. Neste número da Electra, Ângela Ferreira dá a conhecer as suas pinturas realizadas, para memória futura, a partir de murais apresentados em exposições anteriores. No ensaio que escreveu para este «Portfolio», a curadora e historiadora de arte Nomusa Makhubu diz: «Há uma ressonância afectiva para cada um dos componentes do Pan African Unity Mural: subjazem aí perda, conflito, tragédia, mas também optimismo e esperança. É algo aparentado com aquilo a que Tina Campt chamou “frequências afectivas”. Ver o que não costumamos ver, prestar atenção às ressonâncias entre cada imagem e objecto é experienciar como “imagens sublimemente serenas enunciam políticas aspiracionais”.» As imagens que Ângela Ferreira aqui mostra são, por isso, um lugar em que a visibilidade, a inclusão e a centralidade são restituídas ao que habitou longamente as periferias invisíveis da amnésia, da exclusão e do desconhecimento.