Era o tempo em que o futuro era um ismo. A técnica dava ao trabalho humano uma epopeia moderna. Era o tempo em que, no arranque dessa faísca verbal que é a Ode Triunfal, Fernando Pessoa punha, na voz paroxística, paradoxal e imparável de Álvaro de Campos, esta exclamação metálica:
À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!