Esta entrevista a Alfonso Berardinelli, o mais importante crítico literário e cultural italiano, em actividade há mais de meio século, não é apenas uma aproximação ao ideário crítico-teórico deste «escritor invisível», é também um diagnóstico cultural do nosso tempo.

Um escritor português — António Cabrita —, a viver em Maputo há quase duas décadas, lança sobre a cidade um olhar analítico, sofisticado, de um amante que não perde a lucidez perante as qualidades e os defeitos da amada, ao mesmo tempo que a apreende nas suas transformações.

O tema central deste número da Electra é O gosto. Para início da discussão talvez pudéssemos dizer que é difícil reconhecer na máxima latina De gustibus non est disputandum — os gostos não se discutem — um valor de verdade universal, a partir do momento (e esse momento é o século XVIII) em que o mundo do gosto substitui o mundo do belo que tinha imperado desde a Antiguidade.

António Guerreiro percorre neste artigo a história do Kitsch e dessa «atracção fatal da inteligência pela estupidez» que conduz a política ao totalitarismo, reduz os valores artísticos ao mal, transferindo a estética para o domínio da ética. E que tem assumido, através dos mass media, uma preponderância total sobre a vida quotidiana ao tornar o mercado numa forma de existência e conferindo ao entretenimento uma banal hegemonia.

O gosto, tal como ele foi objecto de reflexão na teoria estética do século XVIII, o «século do gosto», em particular pelos enciclopedistas, requer uma incursão nas questões do belo e do bom. É o que faz Maddalena Mazzocut-Mis, professora na Universidade de Milão e autora de uma extensa bibliografia na área da Estética.

O género televisivo que designamos com o nome inglês de reality show é uma manifestação da indústria do entretenimento fortemente marcada pelos códigos sociais e culturais do gosto. É sobre este género de espectáculo que escreve Rodrigo Pereira, investigador na Universidade Nova de Lisboa.

O filósofo e sociólogo francês Geoffroy de Lagasnerie explora neste artigo o facto de o objecto dos seus investimentos intelectuais nunca ter sido a literatura, mas sim a teoria. Essa sua condição pessoal fornece-lhe um motivo para analisar o que significa, tanto no plano do conhecimento como no plano libidinal, a atracção pela teoria.

A indústria da moda, hoje, é um complexo governado pelas leis da vulgaridade, da futilidade, do desperdício, da aceleração própria à fast fashion: é assim que Rosie Findlay, professora na Universidade de Kent, autora de trabalhos de investigação nesta área, descreve os efeitos desta indústria que difunde por todo o lado a injunção: «Não pense, compre.»

A curadoria como projecto alargado, tanto no tipo de «acontecimentos» que realiza como nas suas estratégias de intervenção, abre a arte às ficções, aos tempos potenciais, contra a obsessão do presente em que o mundo contemporâneo vive encerrado. É isto que move Aliocha Imhoff e Kantuta Quirós, cujo trabalho se situa na intersecção da arte com a teoria e a investigação.

A política cultural dos governos democráticos segue o princípio de que não pode ser uma política do gosto, como era a dos regimes totalitários, e por isso precisa de se proteger com um conjunto de mediações e protocolos burocráticos. É sobre esta complexa questão, de onde emergem constantemente críticas, polémicas e protestos, que escreve Patrícia Portela, escritora e artista da área das artes performativas.