Furo
On Walking*
Sónia Vaz Borges

É preciso que as pessoas saibam que qualquer luta de libertação é um conjunto de vitórias e sofrimentos e, às vezes, essas duas coisas estão na mesma pessoa, ou na mesma família ou mesmo grupo.

Uma «pessoa» pode caminhar entre 30 e 50 quilómetros durante a noite; também é possível marchar durante as primeiras horas do dia… A sua casa será a céu aberto.2

É preciso que as pessoas saibam que qualquer luta de libertação é um conjunto de vitórias e sofrimentos e, às vezes, essas duas coisas estão na mesma pessoa, ou na mesma família ou mesmo grupo.

Na altura, sabíamos que era a guerra. Eu próprio fui atingido por dois estilhaços. Foi quando comecei a aperceber-me o que era de facto a guerra. Vi pessoas a morrer.

A luta de libertação era prioridade, e nós estudávamos como ocupação útil, até porque conhecíamos o lugar em que Amílcar Cabral colocava a educação no contexto da luta.

Quando chegámos com aquele entusiasmo todo a Conacri, preparámo-nos para encontrar os camaradas que estavam à nossa espera.

Há várias frentes, a luta tem várias frentes. Tem a frente militar, aquela do embate directo, mas também a da educação, tão importante como a outra. Não interessa. Não adianta libertar se não nos preparamos para assumir a responsabilidade da independência.

Neste processo, ser-se professor? Aprende-se! Para nós a guerra de libertação e a participação na guerra de libertação foi uma grande escola, uma grande escola da vida. Primeiro, pelo exemplo de abnegação das populações das zonas libertadas. Do ponto de vista interno, é preciso nunca subestimar o contributo das populações, principalmente aquelas das zonas que vieram a ser as zonas libertadas. Há exemplos da vida comum, no contacto com as populações, que nos fazem abrir os olhos de espanto e de vergonha de certa… de certa prepotência, de certa arrogância que a gente tem. Nós dizemos sempre que aprendemos muito com pessoas humildes, e eu aprendi a perder a arrogância do jovem universitário que pensa que sabe tudo.

[...]

1*. Testemunhos entrelaçados de: Maria da Luz Boal,  Lassana Seidi, Manuel Boal, Corsino Tolentino, Che Guevara, Agnelo Regalla
2. Guerrilla Warfare (1961) por Ernesto Che Guevara.