O dinheiro não é apenas um medium universal mais ou menos evanescente e cada vez mais abstracto. É a pedra angular da sociedade e da sua administração política, sobre a qual ele tem hoje um controlo total. Não é por isso um tema que possa ser delimitado nas suas fronteiras, já que se expande em todas as direcções, atravessa o planeta à velocidade da luz e ocupa todos os lugares. As ciências da economia e das finanças têm do dinheiro um saber parcial, completamente esotérico para o cidadão comum. Se quisermos saber um pouco mais dele, temos de convocar outros saberes e disciplinas que não se ficam pelo discurso e pelos conceitos que invadiram o nosso quotidiano: a psicanálise, a antropologia, a literatura, a arte. Foi o que fizemos na concepção deste dossier, ao convocarmos contributos das mais diversas proveniências, de modo a pensar o dinheiro naquilo que ele tem de mais próprio. E é porque o seu poder está em todo o lado e tudo determina, mesmo quando não se vê, que ele se refere tantas vezes a teorias e conceitos de ordem metafísica e teológica. Ou então, se preferirmos entrar na lógica pagã, dizemos que o dinheiro é o último xamã que podemos invocar neste mundo completamente secularizado.