Pedro Costa é um «autor», num sentido muito mais radical do que aquele a que a noção de «cinema de autor» alude. Os seus filmes são feitos de uma matéria que transborda de realidade e de pessoas que emergem como figuras exemplares que atravessam o nosso tempo. O prestígio e a reputação internacionais deste cineasta que tem acumulado prémios internacionais, embora fazendo um percurso muito singular e solitário que não admite etiquetas colectivas, muito têm contribuído para uma irradiação do «cinema português». Esta entrevista é uma incursão no seu trabalho e em tudo o que o envolve.

Estes dois textos sobre Lisboa desenvolvem temas tratados no âmbito do projecto «Fragmentação e Reconfiguração: A experiência da cidade entre arte e filosofia», em particular no programa de rádio «Ruas de Sentido Único», concebido por Maria Filomena Molder e os dois autores destes textos: Nuno Fonseca, que escreve sobre a paisagem sonora de Lisboa, e Nélio Conceição, que trata aqui das imagens e representações da cidade. Estes textos foram escritos pouco tempo antes de ser declarada a pandemia, que afectou significativamente o estado de coisas que eles descrevem, confirmando assim uma ideia presente no texto de Nuno Fonseca: a de que a paisagem sonora tem uma temporalidade dinâmica e uma historicidade.

Um carismático e experiente operador de som de cinema, questionado sobre o que singulariza a paisagem sonora de Lisboa relativamente a outras cidades, respondeu com um desconcertante «Nada!». Lisboa não se distingue sonoramente porque todas as cidades soam cada vez mais da mesma maneira, dominadas pelo constante e monótono rumor do tráfego rodoviário. A hipérbole iconoclasta e algo cómica daquela resposta cumpria, contudo, uma função retórica — Vasco Pimentel, o experiente operador de som, acabaria por admitir a existência de nichos na cidade com sons característicos —, mas não deixa de ser surpreendente (e irónico) que alguns dos sons que parecem ser mais distintivos na cidade de Lisboa sejam ainda os da Ponte 25 de Abril.

Existe no Museu da Cidade de Lisboa uma minuciosa maquete da Lisboa pré-terramoto de 1755, executada por Ticiano Violante sob orientação do olissipógrafo Gustavo de Matos Sequeira. A força do levantamento desse passado mítico só é suplantada pelo golpe que nos atira para o abismo do irrecuperável. Trata-se de um caso exemplar da ambivalência inerente a várias representações das cidades: por um lado, o resgate de factos históricos que visa reconstituir um momento preciso de entre as diversas sedimentações do espaço urbano, abrindo-se assim a possibilidade de futuras investigações; por outro lado, a presença oculta das forças destruidoras. 

Este portfólio apresenta-nos o trabalho de um artista, cuja obra se acrescenta a si mesma (e de si mesma) quando se expõe. É aí que a sua visibilidade se realiza plenamente e se confronta astutamente. Para Heimo Zobernig, o mais internacional dos artistas austríacos, a pintura, a escultura, o filme, o vídeo, a performance, as maquetes de arquitectura e o design são modos múltiplos e às vezes contraditórios de interrogação e descoberta. Como diz a curadora Karola Kraus, no ensaio que escreveu para apresentar este artista, «os trabalhos de Heimo Zobernig envolvem processos de produção artística e estética material, mas também questões expositivas e arquitectónicas, ou o questionamento dos mecanismos de funcionamento dos museus e das galerias». Para este portfólio na Electra, Heimo Zobernig «seleccionou as imagens centrando-se em vistas de instalação das suas exposições mais importantes», pondo assim em continuidade a sua prática artística e a sua prática expositiva.

A importância de Joaquim Pinto não se mede apenas pelos filmes que realizou, desde 1988, sozinho ou com Nuno Leonel, nem pelos que produziu. Ele introduziu no cinema português uma qualidade sonora que lhe faltava. E o seu percurso artístico e técnico é determinado pela experiência extrema de um corpo em luta contra hóspedes assassinos, narrada em tom íntimo e auto-reflexivo no seu último filme, a convidar-nos a procurar para além dessa matéria autobiográfica e para além da obra um retrato possível do homem.

A curiosidade é uma das palavras-chave da modernidade, pois é através da curiosidade que o homem chega à ciência. Foi o filósofo alemão Hans Blumenberg, num livro de 1973 sobre «o processo da curiosidade teorética», incluído depois como um longuíssimo capítulo numa segunda edição aumentada de Die Legitimität der Neuzeit [A legitimação da época moderna], que descreveu e analisou este processo, mostrando como a curiosidade abandonou o catálogo medieval dos vícios e passou a integrar o quadro de honra das virtudes.

Neil Kenny, professor de literatura e cultura francesas na Universidade de Oxford, autor de um livro sobre a curiosidade intitulado The Uses of Curiosity in Early Modern France and Germany, percorre as etapas fundamentais da complexa e interessante história da curiosidade, desde a Antiga Roma à modernidade, desde a época em que era considerada um vício, moralmente condenável, até passar a ser uma virtuosa qualidade que está na base do conhecimento.

O ensaísta e crítico de arte Federico Ferrari, professor na Academia de Belas-Artes de Brera (Milão) e um dos fundadores da revista online Antinomie, percorre neste texto o caminho gradual que a arte fez rumo à visibilidade pública. Esse percurso, que culmina nos museus modernos, é conduzido pela curiosidade e entra em crise quando esta declina e enfraquece a capacidade de espanto.

Conhecida sobretudo pelos importantes livros e artigos sobre Leibniz e sobre a Enciclopédia, a professora na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Olga Pombo, escreve sobre o que a ciência e todo o conhecimento, desde Aristóteles, devem à curiosidade.