Prosseguindo o seu propósito de pensar as palavras e os conceitos com que o nosso tempo se pode dizer, a Electra faz da Velocidade o Assunto do seu dossier. «A velocidade mudou e determinou tudo: a política e a comunicação, a economia e a sociedade, a ciência e a cibernética, a arte e o amor, a comida e o sono, a doença e a saúde, a vida e a morte.», lê-se no editorial da revista. Esta edição estava preparada quando o mundo desacelerou devido à pandemia de Covid-19. E também esta pode ser olhada do ponto de vista da velocidade, seja pela sua propagação acelerada e global e pela desaceleração do contacto, seja pela suspensão que provocou e pela corrida desenfreada para lhe encontrar um antídoto.
Este dossier conta com a colaboração de reconhecidos autores, em cujas obras a Velocidade tem sido um tópico de análise e reflexão: François Hartog, Frédéric Neyrat, Yves Citton, Laurent de Sutter, Federico Leoni, Aurélien Barrau, António Guerreiro e João Pacheco.
Na secção «Primeira Pessoa», Vandana Shiva é entrevistada por Sofia Steinvorth. Uma das mais conhecidas activistas ambientais do nosso tempo fala aqui do seu trabalho em favor da agricultura orgânica.
O artista alemão Stefan Kürten é o autor do Portfolio intitulado Pink Turns to Blue, que é acompanhado de um ensaio do curador e crítico Gregor Jansen, que fala da inspiração que a obra de Kürten encontra no cinema e da estranha relação entre arquitectura, inocência e terror.
«Deve uma obra literária ou artística ver-se limitada por razões éticas e políticas?» é a interrogação que dá o mote à secção «Diagonal». A esta pergunta, suscitada pela polémica em torno da atribuição do Prémio Nobel da Literatura a Peter Handke, respondem o crítico, ensaísta e tradutor João Barrento, e o escritor e director da revista francesa Lignes Michel Surya.
A secção «Livro de Horas» revela dois diários do confinamento: um do fotógrafo Daniel Blaufuks, vivido perto de Lisboa; outro da artista visual Mariana Silva, feito a partir de Nova Iorque.
Nesta nona edição da Electra, o pintor João Queiroz comenta as palavras do pintor Paul Gauguin; Gorbatchov é a figura de um artigo de William Taubman, que traça o retrato de um «herói trágico»; o ensaísta e romancista brasileiro Silviano Santiago, especialista da obra de Guimarães Rosa, escreve sobre a edição em Portugal de Grande Sertão: Veredas; Gascia Ouzounian e John Bingham-Hall falam sobre temas fundamentais do urbanismo sónico; a investigadora Mathilde Rouxel redescobre o trabalho da realizadora franco-libanesa Jocelyn Saab; o coréografo Jay Pather visita a Cidade do Cabo e os fantasmas que a assombram, desde o apartheid e eleição de Nelson Mandela até à actualidade; a filósofa italiana Elettra Stimilli aborda o conceito de «mais-valia» e João Oliveira Duarte assinala os 20 anos da edição do Manifesto Contra Sexual do filósofo espanhol Paul B. Preciado.
Uma nova secção, «Folhetim», estreia-se com o escritor Gonçalo M. Tavares e o grupo de artistas-arquitectos Os Espacialistas, que dão a conhecer, ao longo de três edições, «máquinas Humanas que funcionam, não pela necessidade e pela rotina, mas pela imaginação do corpo.»