A fotógrafa Viviane Sassen preparou para esta edição de Electra um conjunto de trabalhos recentes e inéditos, que mostram simultaneamente aquilo que, ao longo da sua carreira, a singularizou como artista e a actual fase da sua criação visual. Num ensaio de apresentação da sua obra, a curadora e escritora norte-americana Josseline Black afirma: «Poucos conseguem fundir dois mundos, o da fotografia de moda e o da fotografia de arte, e Sassen está na vanguarda deste movimento de fusão — na subtil medida em que ela própria rejeita categorizações.» A curadora destaca a influência do surrealismo na artista e, sobre as imagens reveladas neste «Portfolio», diz: «Uma das particularidades mais marcantes destas fotografias é não precisarem de legenda; neste sentido, o que têm de mundano transcende a mundanidade. E estamos de novo em sintonia com a ideia de “encarar o mundo de frente”, de estabelecer contacto visual com o que está à nossa frente. Nestas imagens, o delicado jogo, quase totémico, entre a fotografia e a pintura é ainda a prova de que Sassen mansamente contraria as comuns expectativas.»

Vários artistas libaneses voluntariaram-se durante os anos da guerra e criaram uniformes camuflados para as milícias combatentes. As suas propostas foram catalogadas neste livro por Farid Sarroukh, um pintor medíocre que ficou irritado (mas não surpreendido) com a colaboração voluntariosa
dos seus colegas com as milícias.

Walid Raad dá à catalogação das imagens recolhidas no Portfólio da revista Electra 8 a assinatura de Farid Sarroukh, «um pintor medíocre que ficou irritado (mas não surpreendido) com a colaboração voluntariosa dos seus colegas com as milícias». Como mostram Fernando Pessoa e Jorge Luis Borges, nós somos o Outro de Nós Mesmos. Neste texto, que está nesta revista como se ela fosse outra, fala-se de Walid Raad e também é de Farid Sarroukh que estamos a falar.

A artista visual Mónica de Miranda, a historiadora Sónia Vaz Borges e a coreógrafa Vânia Gala constituem o colectivo que assegura a representação de Portugal na Bienal de Arte de Veneza 2024, cujo tema geral é «Estrangeiros em Todos os Lugares». As três autoras destinaram a esta edição da Electra os textos e as imagens que revelam os grandes temas e motivações do projecto «Greenhouse», que se mostra no pavilhão português sediado no Palácio Franchetti. Este projecto apresenta um jardim crioulo, a partir do qual são pensados os temas do colonialismo, da guerra, das lutas de libertação e da ecologia.

Um dos nomes maiores da filosofia política contemporânea, Wendy Brown tem publicado recentemente alguns dos estudos de referência sobre o neoliberalismo, reconstituindo não só a longa trajectória histórica que culminou no momento presente, como alertando para o facto de se encontrar em rota de colisão com a própria ideia de democracia. Em conversa com a Electra, Wendy Brown percorre e interpela várias das fracturas do presente político.

O portfólio que aqui apresentamos foi destinado à Electra por um dos artistas mais consagrados e, ao mesmo tempo, mais inovadores do nosso tempo. É também um dos mais sofisticadamente cultos e um dos mais eficazmente comunicativos.

Neste trabalho, William Kentridge alia uma semiologia a uma iconologia e encontra nas palavras o sentido sagrado e o uso profano. Ao pôr estes dois modos frente-a-frente, faz do seu encontro uma indeterminação e uma interpelação. Estas obras são como centelhas visíveis lançadas pelo sopro incessante de um fogo invisível. Por isso, nos são ao mesmo tempo familiares e estranhas.

Há 100 anos, enquanto a I Guerra Mundial devastava os corpos e os espíritos, o jovem Ludwig Wittgenstein, que nela foi soldado e prisioneiro, acabava de redigir um enigmático, fascinante e difícil livro que, publicado alguns anos depois, se tornou uma das grandes obras da história da filosofia, dando origem a um infinito acumular de estudos e controvérsias. O Tratactus Logico-Philosophicus mudou a filosofia pela maneira radical como a questionou. É isso que nos diz Leonel Azevedo, cujo trabalho filosófico tem sido sobretudo dedicado a Wittgenstein.

O movimento woke, ou, para utilizarmos uma designação mais adequada, a injunção woke, é um grito de guerra que convocou para o espaço público formas de luta e antagonismos de um novo tipo onde se investem posições exacerbadas. Embora de maneira serena, os dois textos em confronto nesta secção participam dessa divisão: o da escritora e filósofa belga Véronique Bergen, que vê no wokismo um desejo legítimo de emancipação que, no entanto, «cai no seu contrário», e o de Carolina Flores, filósofa portuguesa, investigadora na Universidade da Califórnia em Santa Cruz, que faz o processo da crítica anti-woke.

Wolfgang Tillmans, um dos artistas mais importantes no panorama global da arte contemporânea, e indicado este ano pela revista TIME como umas das cem pessoas mais influentes do mundo, apresenta nesta edição da Electra uma série de fotografias feitas nos últimos anos e que nunca foram publicadas. O ensaio, assinado por Afonso Dias Ramos, explora e situa estas imagens no contexto de um consagrado trabalho com mais de quatro décadas.

Não há história da cultura moderna e contemporânea do Brasil, sem haver nela um lugar insubstituível para a Semana de Arte Moderna (São Paulo, 1922). E foi nesse acontecimento determinante, polémico e agitado, que actuou Yvonne Daumerie, bailarina, coreógrafa, cantora, compositora, instrumentista, declamadora, professora. É desta «multi-artista» e da sua passagem quase esquecida e ignorada pelo mundo, que nos fala a curadora, escritora e crítica brasileira Veronica Stigger. Trazendo para o presente os vestígios da sua existência no passado, é como se Veronica quisesse tornar visível um fantasma e a sua dança apagada pelo tempo.