Simon Critchley, um dos filósofos mais prolíficos e populares das últimas décadas, fala com a Electra sobre alguns dos variados temas que têm vindo a orientar o seu trabalho, desde o lugar da filosofia na sociedade contemporânea à desilusão com a democracia liberal, da importância cultural do futebol até ao desafio de uma escrita autobiográfica.

Uma afirmação provocadora do famoso crítico gastronómico espanhol Rafael García Santos, muitas vezes designado como «o crítico mais temido», é aqui comentada por Alexandra Prado Coelho, jornalista, especialista em assuntos de alimentação e gastronomia, e por Gianfranco Marrone, professor e director do Centro Internacional de Ciências Semióticas de Urbino e autor de obras sobre a semiologia do gosto e do sabor.

A frase que aqui nos propomos discutir parte, aparentemente, de um equívoco, que o próprio Rafael García Santos tenta remediar mais à frente na entrevista, quando esclarece: «É suposto o McDonald’s alimentar-nos e, embora não se trate propriamente de gastronomia, representa o futuro.» E porquê? Porque, argumenta o crítico gastronómico espanhol, «dirige-se às novas gerações, conecta-se com os novos clientes», está a «abandonar empregados e cozinheiros» e, por último, «usa a Inteligência Artificial».

No aclamado filme de Mark Mylod O Menu (2022), há uma cena horripilante. Estamos num restaurante de fine dining, numa pequena ilha remota e sombria, com pouquíssimas mesas e apenas doze convidados. Julian Slowik, o consagrado chef do local, prepara para os seus hóspedes uma ementa especial caracterizada por todo o tipo de surpresas. Não apenas gastronómicas. A dada altura, Julian apresenta Jeremy ao seu público, um sous chef capaz, mas não brilhante, que, terminado o devaneio do chef-guru, põe uma pistola na boca e suicida-se.

Pelo centenário da morte de Franz Kafka (03.07.1883 – 03.06.1924), a Electra publica três artigos sobre o escritor checo: um de Gianluca Cuozzo, professor de Filosofia na Universidade de Turim, sobre as representações da burocracia e do exercício do poder, isto é, tudo aquilo que deu origem ao adjectivo «kafkiano», que entrou no uso corrente; outro de António Guerreiro centrado nas questões biográficas, convocando a monumental biografia de Kafka, em três volumes, da autoria do alemão Reiner Stach; e, por último, um artigo de Jacques Le Rider, germanista francês, reputado estudioso da literatura e da cultura da Europa Central, que escreve sobre a condição bilingue de Kafka, a sua relação com as línguas alemã e checa, e o contexto histórico e linguístico de Praga.

Franz Kafka, com uma lucidez singular, compreendeu as regras e as formas do exercício do poder no mundo contemporâneo. Regras e formas nas quais a violência é dissimulada, considerada aceitável por ser confiada não ao carrasco ou a um sistema repressivo assumido, explícito e ameaçador, mas sim às armas da escrita.

Quem foi Kafka? Quem foi este homem que tinha um mundo imenso, monstruoso, na sua cabeça e cuja vida foi uma ascese na literatura e pela literatura? O mistério chamado «Kafka» está coberto pela película espessa de uma vida quotidiana banal, de funcionário de uma empresa de seguros, mas que na verdade era «feito de literatura», incapaz de ser outra coisa. Desde então, uma fila de intérpretes tem procurado decifrar o enigma, supondo que ele tem a forma de um abismo interior. Walter Benjamin, primeiro que todos, disse que o escritor checo tudo fez para tornar inacessível a resposta à questão da sua identidade: ele «teria quebrado a cabeça toda a vida para saber com o que é que se parecia, sem nunca ter percebido que existem espelhos».

Na época de Franz Kafka (1883–1924), a situação da língua alemã em Praga mudou. Em 1880, Praga e os seus subúrbios contavam ainda com quase 42 mil habitantes de língua alemã, ou seja, 15% da população total. Em 1900, o número tinha caído para 33 776, ou seja, havia 7,5% de germanófonos em Praga, se incluirmos os subúrbios. Destes cerca de 34 mil germanófonos, estima-se que 40% eram judeus.

Esta «Vista de Delft» é como um filme passado em Sevilha, na celebrada Semana Santa. A autora, Marta G. Franco, especialista em comunicação contemporânea, diz-nos: «setenta e duas procissões, desde a Sexta-feira Santa até ao Domingo de Páscoa, porque em Sevilha a Semana Santa é excessiva até no número de dias que dura.» E assim, ao lermos o texto, vamos vendo o desfilar da procissão e o que se passa nela. Estes rituais cumprem tradições antiquíssimas e, ao mesmo tempo, sabem usar os recursos mais modernos, como o das novas tecnologias. Como Marta G. Franco lembra que todas as pessoas estão a participar numa peça de teatro popular. Cada uma com o seu papel.

O sociólogo italiano Vania Baldi, autor de Optimizados e Desencontrados: Ética e crítica na era da inconsciência artificial, adoptando uma perspectiva que deve muito à filosofia e à antropologia da técnica, elabora neste artigo uma reflexão que contraria a crença ilimitada, o optimismo cego e a negligência ética em relação aos novos sistemas da Inteligência Artificial.