O narcisismo como fenómeno social generalizado que marca o nosso tempo é um complexo que suscita uma descrição psicossociológica. Ele manifesta-se através da proliferação de imagens e reflexos que se servem dos muitos meios ao seu dispor (as novas tecnologias, as modernas «máquinas de visão» e de comunicação, as redes sociais) para garantir as suas necessidades básicas: exibir-se e multiplicar-se. Não é preciso grandes estudos de psicologia social para perceber que o narcisismo e as suas variantes responsáveis por uma inflação egóica determinam algumas características que conformam a vida social: o hedonismo, o individualismo, a cultura do instante e voltada unicamente para o bem-estar, o culto das celebridades, o triunfo das imagens. Trata-se de características que impregnam como um fluido o ambiente político, e isso é bem visível no panorama dominante, por todo o lado, atingindo formas extremas na ascensão e triunfo dos clowns, que fascinam os eleitores com as suas consabidas «terapias» e chegam aos mais altos cargos políticos. Embora passível de um olhar diferente que implica outros instrumentos de análise, as reivindicações identitárias não são estranhas a esta cultura.