O consagrado fotógrafo norte-americano John Divola preparou, para esta edição de Electra, um conjunto de trabalhos inéditos, que pertencem a uma série, ainda em curso de realização, no interior duma base aérea militar, no deserto da Califórnia. Essa base foi desactivada logo no rescaldo da Guerra Fria, permanecendo, desde então, como uma autêntica cidade em ruínas. Não é a primeira vez que John Divola, que está representado nos mais importantes museus e colecções, intervém artisticamente em espaços abandonados para registar fotograficamente o resultado. Como Afonso Dias Ramos mostra no ensaio de apresentação da sua obra, estas explorações visuais, feitas durante a pandemia, retomam as estratégias artísticas do seu caminho inicial. Perfaz-se assim um surpreendente arco de quase meio século, que constitui também uma revisitação da história da arte contemporânea. As imagens reveladas neste «Furo» usam a ruína para recolocar a fotografia em relação directa e com a pintura, a escultura e instalação, declinando desta forma uma distinção entre testemunha e participante, intervenção e documento.