Jorge Gaspar, geógrafo e urbanista, Professor Emérito da Universidade de Lisboa, coleccionador de arte contemporânea portuguesa e, com a sua mulher, Ana Marin, dinamizador e mecenas de um programa de exposições e residências para jovens artistas em Alvito, onde tem uma segunda casa e onde reuniu grande parte da colecção, conhece o território português de lés-a-lés, as cidades e os campos, a geografia, a história, a cultura. Quando começa a falar destes assuntos, parece um mapa requintado de geografia física e humana, daqueles cheios de linhas, formas e cores. Se quisermos encontrar uma personalidade da sua área científica com o qual compará-lo, Orlando Ribeiro, de quem foi aluno, é talvez o nome que se impõe imediatamente.
Esta entrevista é sobre um tema preciso: a cidade e o campo, nas suas oposições e continuidades geográficas e históricas. E decorreu no edifício do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território, o IGOT, na Cidade Universitária, onde Jorge Gaspar mantém um gabinete. Ao longo da conversa, ficaremos a saber que a sua relação com a zona onde é hoje a reitoria da Universidade e o relvado em frente que desce até ao Campo Grande é muito antiga, faz parte do seu «romance das origens» e não apenas da sua vida académica. Ali, viveu ele a sua infância; aquele território, antes de ser o coração da Cidade Universitária, foi uma quinta da família. A entrevista podia ter começado por aqui: a cidade cosmopolita do conhecimento, no passado relativamente recente, foi campo de cultivo.
Para a entrevista, Jorge Gaspar veio preparado com uma antologia de citações, passagens d’A Ilustre Casa de Ramires e sobretudo d’Os Maias, mas também de um romance de Agustina Bessa-Luís, onde o campo é evocado, representado, caracterizado. Serviram estas citações para Jorge Gaspar mostrar a ocorrência do campo como tópico amplamente representado na literatura, onde ele encontra definições que variam historicamente em função de valores estético-culturais, mas também em função da história do urbanismo. Desde que o Renascimento inventou o conceito de paisagem, o campo tornou-se objecto de muitas metamorfoses e figurações estéticas. Das várias citações de que se muniu Jorge Gaspar, que poderiam ser o corpus de um estudo temático, transcrevemos esta passagem d’Os Maias:
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