«Só se pode confiar na bondade se ela já tiver respirado o mesmo ar que o mal», canta Nick Cave. Com estas palavras, parece ter dito a sua vida e a sua obra.

Já no final da sua vida, Barthes escreveu uma frase que revela algum cepticismo em relação à literatura moderna, cujas experiências mais extremas tinham sempre suscitado a sua adesão ou, pelo menos, o seu interesse. Éric Marty, editor da obra completa de Roland Barthes, comenta esta frase e explica o contexto em que ela nasceu.

Os panfletos anti-semitas de Céline, escritos entre 1937 e 1941, interditos desde o final da Segunda Guerra Mundial, voltaram a ser motivo de uma violenta polémica no final do ano passado, quando a Gallimard anunciou que iria republicá-los numa edição crítica e, logo depois, perante algumas reacções públicas, desistiu do diagonal Serge Klarsfeld O que fazer dos textos infames? projecto. Sobre esta questão polémica, publicamos aqui as posições não coincidentes de dois intervenientes autorizados na matéria: Pierre-André Taguieff, autor de um notável ensaio sobre o anti-semitismo de Céline, e Serge Klarsfeld, um grande activista, em França, pelos direitos dos judeus deportados.

Uma exposição retrospectiva da obra artística de Álvaro Lapa, em Serralves, deu-nos a ver, muito claramente, um artista singular e muito complexo no panorama da arte portuguesa do século XX, em diálogo denso e produtivo com outros campos disciplinares, tais como a literatura e a filosofia. Razão suficiente para duas abordagens críticas diferentes: a de José Gil e a de João Pinharanda.

Todos os dias, lemos nos jornais e nas revistas títulos como estes: Famosos vão de férias para destinos paradisíacos; Famosa diverte-se em festa sexy e acaba a mostrar o que queria esconder; Famosos organizam espectáculo de apoio a crianças carenciadas; Famosa lança marca de produtos de cosmética. Em férias ou em festas, na caridade ou no comércio, estes títulos não são sobre isso, mas sim sobre os famosos que fazem isso. Está neles o fito e o foco.

Cristina Battocletti, jornalista e escritora, autora de uma biografia de Robert Bazlen (1902–1965), traça um retrato deste triestino cosmopolita que muito contribuiu para que A Consciência de Zeno, de Svevo, fosse publicado. Fundador da editora Adelphi, tradutor, escritor quase sem obra, tornou-se uma figura de culto.

Trieste, a cidade de fronteira e de cruzamento de culturas, estação marítima da Mitteleuropa habsbúrgica, berço de um ambiente cultural e literário de extraordinária riqueza, é aqui revisitada por quem conhece bem a brilhante constelação triestina.

O historiador indiano Dipesh Chakrabarty, figura eminente dos estudos pós-coloniais e dos «Subaltern Studies», autor de um livro que teve uma forte repercussão internacional, Provincializing Europe, actualmente professor na Universidade de Chicago, é entrevistado pelos historiadores José Neves e Marcos Cardão.

Revelamos, nesta secção, obras inéditas de uma das mais reconhecidas fotógrafas da actualidade: Jo Ractliffe. Esta artista sul-africana, cujos trinta e cinco anos de carreira se assinalam agora, tem estado presente nas mais relevantes instituições artísticas, como o MoMA ou o Met (Nova Iorque), a Tate Modern (Londres) ou o Rijksmuseum (Amesterdão). No momento em que está em exibição a sua mais recente retrospectiva (Drives) no conceituado Art Institute of Chicago, damos a conhecer algumas das fotografias que Jo Ractliffe fez em Angola, numa geografia que vai do porto de Luanda ao bairro da Boavista e ao mercado Roque Santeiro. O que então a atraiu foi ver «como as pessoas fazem o seu caminho na vastidão caótica e selvagem da cidade, cheia da energia e iniciativa do pós-guerra e a promessa contraditória de um novo futuro». Num ensaio escrito para esta edição, Afonso Dias Ramos apresenta esta importante artista contemporânea e o trabalho que destinou a Electra.

Esta crónica de Fernando Pessoa sobre a celebridade é uma meditação filosófica e um código de ética. No seu comentário, a que deu o título, vindo do Eclesiastes, de Vanitas, o poeta Manuel de Freitas parte do texto de Pessoa para fazer uma acusação à nossa época: «Vivemos num tempo em que a celebridade assenta, quase invariavelmente, em equívocos estéticos ou em rudes campanhas promocionais». E afirma: «Quanto a mim, agora quase mais velho do que Fernando Pessoa, fico feliz por haver cem ou duzentos leitores que seguem de perto os meus livros.»