Editorial
A fama da fama
José Manuel dos Santos e António Soares

Todos os dias, lemos nos jornais e nas revistas títulos como estes: Famosos vão de férias para destinos paradisíacos; Famosa diverte-se em festa sexy e acaba a mostrar o que queria esconder; Famosos organizam espectáculo de apoio a crianças carenciadas; Famosa lança marca de produtos de cosmética. Em férias ou em festas, na caridade ou no comércio, estes títulos não são sobre isso, mas sim sobre os famosos que fazem isso. Está neles o fito e o foco.

Estes famosos, que como tal são definidos e que como tal se definem, são de várias espécies e fazem coisas muito diferentes. Vão de apresentadores, actores e pivôs de televisão a políticos e humoristas, de treinadores e futebolistas a influencers e bloggers, de cantores a participantes em reality shows e a socialites, de comentadores a chefs de cozinha. O que os liga e os iguala é aparecerem nas televisões, nas revistas e nas redes sociais, tornando-se conhecidos e sobretudo reconhecidos.

Esta lista, feita de tudo o que parece e aparece, poderia ser interminavelmente dilatada. É deste mundo que saem os rostos e as vozes que ocupam, em harmoniosa cacofonia, o espaço público como se fosse um território próprio e exclusivo.

É deste mundo que se soltam diariamente as gargalhadas estridentes, os gritos agudos, os gestos dramáticos, as opiniões categóricas, as piadas repetitivas. É deste mundo, feito de avidez e vulgaridade, que irrompem quotidianamente os sinais de um narcisismo sem travão, de um exibicionismo sem limite e de uma vaidade sem vagar.

É a este mundo que pertencem pessoas que, todos os dias, se mostram a fazer tudo o que dantes não se mostrava: a dormir, a comer, a vestir, a maquilhar, a namorar, a cozinhar, a conduzir, a fazer ginástica. São deste mundo os que, todos os dias, exibem a família, os animais, as casas, os carros, as piscinas. É deste mundo que vêm, todos os dias, notícias, boatos, intrigas, rivalidades, traições, vinganças, mentiras, desmentidos. Este é o mundo onde vale tudo para chegar, ver, vencer, passar à frente, ganhar dinheiro, ficar com o lugar, ter o prémio. Este é o mundo onde tudo se falsifica: a imagem, o êxito, a carreira, a moral, a felicidade, a fé.

Este é o mundo onde os famosos e o seu público se infantilizam reciprocamente, olhando-se como crianças que jogam um jogo para confirmarem mutuamente os seus papéis nele. Este é o mundo onde se é famoso por e para se ser famoso (famous for being famous).

Como Flaubert disse da estupidez (foi este o «Assunto» da Electra 2), a fama é de todos os tempos, mas cada tempo tem a sua fama. Qual é a fama do nosso tempo (este é o «Assunto» desta Electra 11)? E que famosos são estes e são estas que, hoje, querem impor a imagem, fazer a moda, servir de modelo?

Há quem pergunte com melancólica indignação: como lhes foi dado tanto poder e tamanha importância para que os mais altos representantes do Estado ou as mais ilustres figuras da sociedade corram para eles, em cumplicidade que tão facilmente se confunde com vassalagem a esses famosos? De que modo é que o desejo de receber popularidade de quem é popular não se torna um populismo? Como é que a popularidade sem prestígio a que se colam não desprestigia os cargos que ocupam ou as posições que detêm?

Como é possível que o nosso tempo e o nosso mundo se tenham deixado representar por estas figuras que fazem da mediocridade uma vantagem? Como é possível que esta fama tão vulgar se tenha tornado a aura que electriza o nosso tempo, a alavanca que levanta o mundo, o elevador que leva ao topo da torre social?

Se a fama era o averbamento de uma superioridade, a autenticação de uma grandeza e a certificação de uma glória, como aconteceu termos trocado a superioridade pela inferioridade, a grandeza pela pequenez e a glória pela falta de razão para a ter?

Andy Warhol foi tímido: quando imaginou o momento em que todos teriam os seus quinze minutos de fama, não imaginou que alguns desses iriam ter, não quinze, mas quinze mil ou mesmo quinze milhões de minutos dessa fama fácil.

Há, porém, quem veja em tudo isto uma democratização inevitável e um nivelamento igualitário que, na cultura de massas e na sociedade do espectáculo, acaba com a separação entre alta cultura e baixa cultura, entre elites e povo, entre privilegiados e o comum dos mortais. Assim, a classe média universal e a pequena burguesia planetária são o sopé onde a montanha desta nova fama, vigorosa e vingadoramente, se levanta.

Sabemos que o desejo de se ser famoso é de todos os tempos. Desde que o homem se olha como homem (ou talvez ainda antes), quis ser conhecido e celebrado, publicitado e reconhecido.

A celebridade nasceu do mito e ao mito ficou sempre agarrada, crescendo nele como a hera cresce no muro. As primeiras grandes celebridades do Ocidente, de uma beleza feita de esplendor divino e de perigo animal, foram criadas pela imaginação mítica: Helena de Tróia, filha de Zeus e de Leda, que provocou disputas, guerras e mortes; Aquiles, o do calcanhar vulnerável, filho de Peleu e de Tétis, amigo de Pátroclo e herói da Ilíada; ou Ulisses, filho de Laerte e Anticleia, rei de Ítaca e astuto herói da Odisseia. Jorge Luis Borges disse que a Ilíada e a Odisseia permanecem vivas no coração humano porque falam de uma guerra e de uma viagem — e a vida é uma guerra e uma viagem.

Quem deu fama e lenda a estas figuras fundadoras foi Homero, cuja lenda e cuja fama se fundam, também elas, numa existência fantasmática, incerta e mítica. Depois, houve Heróstrato, de que Fernando Pessoa fez um título e um texto para pensar a celebridade, o génio e a imortalidade. Há mais de 2400 anos, o jovem Heróstrato deitou fogo a uma das sete maravilhas do mundo antigo, o templo de Artemisa, em Éfeso. O incêndio que ateou teve como móbil o desvairado e conseguido propósito de fazer falar de si, alcançando o renome e a imortalidade.

A história da fama e da celebridade é uma das mais reveladoras, entre as muitas histórias e contra-histórias de que se faz a história humana. É uma miragem que percorre os longos corredores de espelhos dos séculos, onde o ser humano se fita com um olhar ávido e ansioso.

Na sua Histoire de la célébrité [História da celebridade], Georges Minois escreve — e há aqui o eco das teses do antropólogo, historiador e filósofo René Girard — sobre o desejo mimético, figurando o triângulo sujeito-mediador-objecto:

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Andy Warhol, Rainha Isabel II de Inglaterra, 1985
© Fotografia: Scala, Florença/Christie’s Images, Londres

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Andy Warhol, Auto-retrato, 1986
© Fotografia: Scala, Florença/Christie’s Images, Londres

Procurar a celebridade é querer afirmar uma superioridade sobre os outros, atrair o seu olhar, «fazer-se notar». E, no entanto, o público procura as celebridades, tem necessidade de as admirar, de as venerar, até mesmo de as adorar, de lhes prestar culto, como os «fãs» das stars, mas também de as detestar e de fazer delas bodes expiatórios. Pode amá-las, invejá-las, ter ciúmes delas, odiá-las, mas raramente é indiferente. Existe entre o homem da rua e a celebridade uma relação psicológica complexa e flutuante, que evolui com o contexto cultural global. É por isso que a celebridade tem uma história. E esta história é importante porque é reveladora da evolução das mentalidades.

Há um fundo permanente: a celebridade é procurada porque ser célebre é ser mais; saber-se conhecido e olhado pelos outros é sentir-se desmultiplicado, é penetrar na consciência dos outros e viver neles, vampirizar de algum modo a sua força vital. Mas isso opera-se de maneiras e por motivos diferentes, seguindo os modelos culturais de cada época. Para se impor à atenção dos outros é preciso ao mesmo tempo ser semelhante e diferente deles. Muito diferente, é-se rejeitado como louco; muito igual é-se anónimo. É preciso impressionar pela sua diferença e interessar pela sua semelhança. O homem célebre é ao mesmo tempo modelo e reflexo da sociedade, e, segundo as épocas, um ou outro desses aspectos predomina. O homem médio, o homem ordinário, procura-se no homem célebre, que é um espelho, mas um espelho deformante: o homem célebre é ele, com as qualidades e os defeitos exacerbados, e é por isso que ele o ama ou o detesta, como se ama ou se detesta um retrato de si embelezado ou uma caricatura.

E sobre as mudanças que o nosso tempo trouxe à fama e as que a fama revela do nosso tempo, diz Georges Minois:

A celebridade de outrora visava sobretudo a grandeza; a de agora abdicou dessa pretensão: a fama chega-lhe. Mas entre os heróis homéricos e as stars actuais da política ou do espectáculo, os modelos conheceram mudanças ao longo da história.

Vivemos na época actual uma verdadeira mutação na noção de celebridade, uma inversão de perspectiva. Tínhamos dito que a celebridade clássica era ao mesmo tempo reflexo e modelo para o homem ordinário. Ela falava a mesma linguagem que ele, mas procurava conduzi-lo na sua direcção, e isso é que fazia a sua grandeza. Hoje, a celebridade abdicou do seu papel de modelo, ela não é mais que reflexo; continua a ser espelho, mas o espelho deixou de ser deformante. O verdadeiro herói é agora o homem ordinário, que também pode, pelos media modernos, aceder sem problemas a um certo grau de celebridade, pela Internet e pela televisão. As celebridades patenteadas não têm nada a dizer; tornaram-se puros comediantes que representam nos ecrãs a vida dos homens ordinários […] As celebridades proliferam, mas tornaram-se imitadoras em lugar de criadoras. Porque se, como dizia Shakespeare, «o mundo inteiro é um palco», o espectáculo acontece agora na sala e por vezes alguns espectadores sobem ao palco e representam o seu próprio papel sob a luz dos holofotes, porque já não há ninguém para escrever a peça. 

A celebridade sem grandeza é a forma contemporânea de fama […] Esta forma de celebridade corresponde à sociedade do espectáculo, da aparência, a sociedade do parecer e do ter, isto é, dos media e do consumo. A celebridade tornou-se concha vazia, é efémera e sem consistência: brilha sobre os ecrãs, que cada um pode desligar ou iluminar a todo o momento. Ela é fabricada, consumível e descartável de acordo com as campanhas publicitárias, as sondagens ou os «índices de popularidade». O conteúdo já não tem importância. É-se célebre porque se foi «visto na televisão», ou porque se tem uma actividade frenética nas «redes sociais»: aparecer num ecrã é, de todo o modo, uma condição necessária ou mesmo suficiente. No limite, não se sabe mesmo porque se é célebre: é-se «célebre por se ser célebre».

O grande homem de outrora era aquele que contribuía para preencher a angústia existencial ao incarnar grandes ideais políticos, estéticos, científicos, literários que davam um sentido à vida. O grande homem desapareceu com os grandes ideais. O seu sucessor, o homem célebre, não incarna mais do que interesses parciais — é líder, guru, chefe de grupo, ou está lá para fazer espectáculo. Olha-se um momento e passa-se a outra coisa […] A celebridade tornou-se pura procura da afirmação de si. É a única significação que ela pode ainda ter num mundo de individualismo narcísico e hedonista, onde cada um é pressionado para se afirmar. A procura da celebridade é o último refúgio do ser. Quando esse desejo cessar, o ser ficará perante a fascinação do nada.

Para observarmos o que está a acontecer e compreendermos que fama é esta, que se tornou mais famosa do que todas as famas do passado, temos a ajuda de obras fundamentais. Entre elas, estão as de Émile Durkheim, com O Papel dos Grandes Homens na História; as de Guy Debord, com A Sociedade do Espectáculo; as de Norbert Elias, com O Processo Civilizacional, A Sociedade de Corte e O Declínio da Arte de Corte; as de Erving Goffman, com A Apresentação do Eu na Vida de Todos os Dias; as de René Girard, com Mentira Romântica e Verdade Romanesca, A Violência e o Sagrado e O Bode Expiatório; as de Roland Barthes, com Mitologias e O Sistema da Moda; as de Umberto Eco, com Apocalípticos e Integrados e O Super-Homem das Massas; as de Allan Bloom, com A Cultura Inculta; as de George Steiner, com Barbárie da Ignorância; as de Gilles Lipovetsky, com A Era do Vazio, O Império do Efémero, O Luxo Eterno, A Estetização do Mundo e Agradar e Tocar; as de Anthony Giddens, com A Transformação da Intimidade; as de Richard Sennett, com A Corrosão do Carácter e O Declínio do Homem Público.

E há, claro, as obras literárias de Homero, Plutarco, Tácito, Suetónio, Maquiavel, Giorgio Vasari, Montaigne, Cervantes, Shakespeare, Saint-Simon, Stendhal, Chateaubriand, Balzac, Eça de Queiroz, Oscar Wilde, Proust, Musil, Thomas Mann, Scott Fitzgerald, Truman Capote, Kundera. Ou, no cinema, entre outras, O Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder; Assim Nasce uma Estrela, de George Cukor; Belíssima, de Luchino Visconti; Celebridades, de Woody Allen; Ginger e Fred, de Federico Fellini; Celebrità, de Ninì Grassia; Barton Fink, dos irmãos Coen; Fama, de Alan Parker, que deu origem a uma série de televisão homónima; The Truman Show, de Peter Weir; e quase todos os filmes de Pedro Almodóvar, como Ata-me!, Saltos Altos, A Flor do Meu Segredo, Dor e Glória.

Afinal, talvez este novo culto da fama, que dá ao nosso tempo um imaginário sem imaginação, possa ser compreendido através de um conceito do escritor alemão Hans Magnus Enzensberger. No livro a que deu o título de Mediocridade e Loucura, em que fala da morte da literatura, ele nomeia os assassinos: os «analfabetos secundários». Os «analfabetos primários», de que faz o elogio, não sabem ler nem escrever, mas têm uma sabedoria. Neles, com a transmissão oral que asseguravam, está a origem da literatura. Os «analfabetos secundários», que se desconhecem enquanto tais, sabem ler e escrever (embora com erros), mas estão reduzidos à imitação da linguagem dos meios de comunicação de massas, constituindo uma espécie de plebe audiovisual. Aos seus herdeiros poderíamos hoje chamar plebe audiovisual-digital ou dos analfabetos terciários. São tecnologicamente aptos e velozes, infoincluídos e conectados, informados e poliglotas, conhecedores de todas as novidades, gadgets, ferramentas e modas tecnológicas — mas fazem de tudo isso uma incultura e as suas atitudes pertencem ao mundo onde tudo se passa e tudo passa, nada ficando; onde tudo se tem e ninguém é. Têm todas as qualidades, mas são homens e mulheres sem qualidade.

Deles parece ter falado T. S. Eliot, quando perguntou:

Onde está a Vida que perdemos no viver? Onde está a sabedoria que perdemos no conhecimento? Onde está o conhecimento que perdemos na informação?

jean luc godard histoires du cinema

Fotogramas de Histoire(s) du Cinéma, Jean-Luc Godard, 1988-1998

Esta plebe audiovisual-digital é o proletariado da fama e dos famosos. Vende-lhes a força do seu trabalho de veneração (às vezes, também de aversão) e os famosos ficam com a mais-valia disso. Esta sociedade é também atravessada por uma luta de classes veemente e cruel.

No nosso tempo, tanto como pessoas, são famosos objectos e produtos, marcas e gadgets, plataformas e recordes, eventos e avatares, imagens virtuais e motores de busca, robôs e aplicações. É como se, para a nossa actualidade agitada e sonâmbula, a fama fosse o todo que reveste os fragmentos e o contínuo que tapa as descontinuidades.

Este é o tempo em que, à medida que a fama se valoriza, tudo o que ela apresenta e representa se desvaloriza. Este é o tempo em que quase nada do que brilha é ouro. Este é o tempo em que more is less. Este é o tempo em que a fama é irmã do Kitsch e o Kitsch tio dos famosos. Este é o tempo de uma nova síndrome: a do horror ao anonimato.

«A celebridade é um plebeísmo. […] É preciso ser muito grosseiro para se poder ser célebre à vontade», dizia, há já mais de cem anos, Fernando Pessoa. Sobre a celebridade e a avidez viscosa que dela emana, Pessoa escreveu, com raro acinte moral, uma crónica que é uma espécie de declaração de princípios existenciais e um manifesto contra a vulgaridade do mundo, fazendo disso uma altivez discreta e uma insurreição oculta. O seu tom quase sacral revela a ressonância metafísica, Soaresética e estética, que Pessoa dava ao tema. Este texto, de uma elegante insolência, é comentado, nesta edição («Passagens»), pelo poeta Manuel de Freitas.

«É superfamoso!» Este é o tempo em que o sufixo super, às vezes também tornado substantivo ou adjectivo, voa por todo o lado como um insecto que zumbe, exagera, superlativiza, cerca, faz upgrade. A fama é a super-cereja no bolo da megalomania narcísica. O «Dicionário das Ideias Feitas» deste número fala de super, essa palavra invasiva e irritante.

A fama é a arte do espelho e do seu estádio (no sentido lacaniano). Não há nenhum famoso que não esteja sempre a fazer um auto-retrato e não há nenhum jornalista-pivot da televisão que não queira ser ele mesmo a notícia.

No mundo mediático, que se olha como uma casta superior ou uma tribo endogâmica, em que os membros acasalam e desacasalam instantaneamente entre si, duplicando assim o seu capital de fama, pertence-se para não se ser excluído e exclui-se para se pertencer.

Este mundo é um clube onde, mesmo em público, todos se tratam enfaticamente por tu, afirmando um sentido de pertença e de partilha, de intimidade e de família, de exclusividade e de exclusão. Este é um mundo em que alguns dos seus famosos habitantes falam de si mesmos na terceira pessoa; e em que outros usam a primeira pessoa para dizerem: «Eu, como figura pública…» Este é um mundo tanto mais fechado quanto mais aberto pareça. O seu poder nunca é uma potência, é uma actualidade. Nunca é uma paragem, é uma corrida. Nunca é um ser, é sempre um devir.

Estes famosos e estas famosas propagam e propagandeiam, a toda a hora, nas redes sociais, os sítios aonde vão e os lugares onde estão. Não conhecem a eloquente resposta que uma velha aristocrata deu a um arrivista burguês que, todos os dias, lhe enumerava a lista dos sítios aonde tinha ido: festas, jantares, almoços, chás, recepções, espectáculos, clubes, corridas de cavalos. Um dia, ela virou-se para ele e, com uma aparente neutralidade vocal, mas com um sorriso desdenhosamente altaneiro, atirou-lhe: Meu caro senhor, um cavalheiro não se define pelos sítios aonde vai, mas por aqueles aonde se recusa ir…

Escolher a Fama como «Assunto» da Electra 11 é reconhecer que, neste fenómeno, se cruzam e polarizam tentações e tendências, ambições e loucuras, complexos e recalcamentos contemporâneos. Ao detectá-los e interrogá-los, ao «lê-los» e interpretá-los, estamos a ver uma imagem e a escutar uma voz que nos diz (às vezes, a contrario sensu) como somos, no que parecemos e como aparecemos.

Este «Assunto» é como um holofote móvel e nervoso que foca e desfoca aquelas e aqueles que, velozes e infatigáveis, se trocam e destrocam na corrida vertical e vertiginosa da fama. No centro desse palco em cena aberta, agora já sem pano de boca, onde os corpos e as imagens se confundem, vê-se, sob a máscara da celebridade, o rosto cruel de um tempo a que chamamos nosso, mas que nos trai e foge como a fama.