O autor de Bref séjour à Jérusalem, o escritor, crítico literário e professor de literatura Éric Marty, narra aqui as suas deambulações por Telavive, incidindo a sua atenção sobre a modernidade e o cosmopolitismo desta cidade que confere a Israel uma face diferente daquela que Jerusalém revela.

Na história do sinal «+» (adição), introduzido, tal como o sinal «–» (subtracção), na escrita aritmética para simplificar a contabilidade, encontra o filósofo belga Laurent de Sutter a cifra do excesso, num sentido filosófico e não apenas aritmético.

Os efeitos do Maio de 68 podem ser encontrados em muitas formas actuais de luta e de insurreição, onde se manifesta uma nova consciência política, prova de que esse movimento que eclodiu em Paris há precisamente 50 anos teve uma enorme força mobilizadora e não pode ser reduzido a uma dimensão inócua: é o que mostra a historiadora americana Kristin Ross.

Avancemos desde já uma posição clara, que as duas epígrafes sintetizam. A primeira, mais problemática, escrita numa Europa à beira da Grande Guerra, implica que corpo-mente-agir devem tender para um ideal humano de integridade (o «porte íntegro» de que fala também Ernst Bloch); a outra (proveniente de um clássico do pensamento, escrito no final dessa guerra) propõe que a arte não está acima (nem abaixo) de uma consciência ética, que a beleza não serve de álibi para a barbárie ou para formas de pensamento que a legitimem.

João Constâncio, professor no Departamento de Filosofia da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, comenta e prolonga num registo muito pessoal uma frase de Henry de Montherlant, mostrando como ela pode hoje ser interpretada à luz da «desrazão» que alastra no nosso tempo.

A relação entre o ver e a razão: é por esta via que Fernando Belo, autor de uma vasta obra que vai dos estudos teológicos à filosofia da linguagem, inicia um comentário da fala de uma personagem de Beckett. Este texto, solicitado pela Electra, foi escrito dois meses antes de Fernando Belo morrer. A sua publicação vale também como homenagem ao homem e ao filósofo com um percurso singular que atravessou, jubilante, saberes e fronteiras disciplinares.

Uma experiência de juventude numa terra que é, segundo o autor, «O último subúrbio de Lisboa». Narrada na primeira pessoa e filtrada por um olhar que adquiriu, entretanto, a linguagem e as ferramentas analíticas para compreender os ódios e as leis cruéis desse mundo cheio de fronteiras e territórios demarcados, essa experiência adquire aqui um valor paradigmático.

Pessoa tóxica e ambiente tóxico e etc. e já se sabe. Mas uma verdadeira linguagem tóxica é uma linguagem em que o pensamento existe na véspera da frase e a frase vem com forma pré-definida como se fosse não linguagem, mas escultura em pedra transportada pelo colectivo ensinado a ser estúpido com o moderno método infalível.

O trabalho é uma questão maior do nosso tempo, um facto social total e um território de paradoxos: é o que está simultaneamente em falta e em excesso, nesta época em que as tecnologias da inteligência artificial substituem os humanos e lhes retiram os empregos, ao mesmo tempo que a vida dos empregados é cada vez mais subtraída pelo aumento do tempo de trabalho e pela perda de autonomia. O anunciado fim da sociedade do trabalho e as antevisões de um novo regime a que foi dado o nome de «pós-trabalho» não encontraram ainda uma resposta adequada no plano político nem nos hábitos e convenções de todo o sistema social. Mas ganha cada vez mais força a ideia de que é preciso reinventar o trabalho e o modo de o distribuir de maneira a eliminar uma oposição cada vez mais irredutível entre uma elite do trabalho e uma imensa massa de desempregados, precários, intermitentes e supranumerários. As circunstâncias actuais da pandemia vieram dar força ao teletrabalho e ao smart working que, funcionando muito embora no quadro e segundo as regras de um regime de trabalho que desde há muito se revela disfuncional, podem ser o início de uma transformação radical. Esta problemática do trabalho, diversa e irradiando em muitas direcções, constitui a matéria do «Assunto» deste número da Electra.

O trabalho imaterial, as actividades de natureza cognitiva potenciadas pelas novas tecnologias digitais que deram origem ao chamado «capitalismo de plataforma», implicaram uma enorme transformação do mundo do trabalho e um alargamento da precariedade, de tal modo que a tradicional ideia de emprego começa a ser vista como uma coisa do passado: é destas questões que trata este artigo de José Nuno Matos, especialista em sociologia do trabalho e investigador no Instituto de Ciências Sociais, em Lisboa.