Algum tempo antes da noite entre os dias 1 e 2 de Novembro de 1975, quando foi brutalmente assassinado, Pier Paolo Pasolini se encontrou com o jornalista inglês Peter Dragadze, com quem durante seis anos manteve um diálogo e a quem concedeu diversas entrevistas. Naquele dia, Dragadze mostrou-lhe algumas folhas, nas quais havia recolhido opiniões de Pasolini sobre os mais diversos assuntos, dizendo que aquilo faria parte de um espécie de longa matéria dedicada à vida e obra do poeta. Pasolini tomou as folhas, levou-as consigo e, alguns dias depois, no último encontro que teria tido com o amigo inglês (a quem carinhosamente chamava de «enche-o-saco»), as entregou a ele dizendo: «Este é quase um testamento espiritual- intelectual. Se acontecer algo, Dragadze, mostre-as. Creio que poderia interessar a alguém.» Quinze dias depois, o texto foi publicado no semanário Gente com o título «Quase um testamento».