Abdellah Taïa é um escritor marroquino que vive em Paris há 20 anos. Mas a sua visão do mundo árabe, tal como ele a exprime nos seus romances e nas suas intervenções públicas, não é a de quem olha à distância, mas a de quem nunca saiu do seu interior. E é a partir dessa pregnante experiência marroquina, familiar e social, que ele se aplica a destruir clichés, a representar um mundo que não coincide exactamente com o modo como o Ocidente o constrói.

A partir desta famosa e provocatória citação de Nietzsche, o professor da Universidade de Londres e ensaísta, especialista em teoria cultural e política, Jeremy Gilbert, também DJ, diz-nos como a matéria pode ser móvel e criativa. Ligando a sabedoria oriental e a ciência ocidental, o «deus que dança» pode ser um bom ponto de vista para olhar o nosso tempo — este tempo da «grande festa» em todo o lado e a toda a hora, com as suas multiplicidades e as suas complexidades.

Esta «Vista de Delft» é como um filme passado em Sevilha, na celebrada Semana Santa. A autora, Marta G. Franco, especialista em comunicação contemporânea, diz-nos: «setenta e duas procissões, desde a Sexta-feira Santa até ao Domingo de Páscoa, porque em Sevilha a Semana Santa é excessiva até no número de dias que dura.» E assim, ao lermos o texto, vamos vendo o desfilar da procissão e o que se passa nela. Estes rituais cumprem tradições antiquíssimas e, ao mesmo tempo, sabem usar os recursos mais modernos, como o das novas tecnologias. Como Marta G. Franco lembra que todas as pessoas estão a participar numa peça de teatro popular. Cada uma com o seu papel.

Este livro é o manifesto de uma mulher, nascida em 1952, nos Estados Unidos da América, que assina com um pseudónimo sem letras maiúsculas. Esta mulher, bell hooks, também é negra. E importa dizer «também» porque toda a questão deste livro, como mostra Marta Lança, é a da conjunção de uma identidade de género e uma identidade «racial».
 

Eyal Weizman é fundador e director da Forensic Architecture, uma agência que usa a arquitectura como prova material, levando a cabo investigações independentes ou em parceria com procuradores de Justiça internacionais ou grupos de defesa ambiental e de direitos humanos, com o intuito de identificar, reconstruir e denunciar a violência. Em conversa com Afonso Dias Ramos, Eyal Weizman percorre uma década de trabalho, que cruza a arte e a análise forense, jornalismo e Direito, com pesquisas avançadas sobre o espaço e os media em situações de violência estatal e corporativa pelo mundo todo.

A frase que aqui nos propomos discutir parte, aparentemente, de um equívoco, que o próprio Rafael García Santos tenta remediar mais à frente na entrevista, quando esclarece: «É suposto o McDonald’s alimentar-nos e, embora não se trate propriamente de gastronomia, representa o futuro.» E porquê? Porque, argumenta o crítico gastronómico espanhol, «dirige-se às novas gerações, conecta-se com os novos clientes», está a «abandonar empregados e cozinheiros» e, por último, «usa a Inteligência Artificial».

«Era agora a minha vez de repintar com a fotografia uma nova imagem de algumas das obras-primas do Museu do Prado. Como há anos que utilizo a técnica da exposição dupla ou múltipla sobre películas analógicas vi nele a fórmula para construir o meu imaginário.» Na memória descritiva deste trabalho, escrita para a Electra, o conhecido fotógrafo Alberto García-Alix, vencedor do Prémio Nacional de Fotografia de Espanha, conta-nos a sua relação, desde a infância, com o Prado, aonde ia levado pela mãe, e fala-nos do método que usou para criar fotografias a partir das obras do Museu. São algumas dessas fotografias inéditas que apresentamos neste «Furo». Assim se vê como as imagens podem dar às imagens uma continuidade que tanto as vela como as revela, numa viagem feita a um mundo que ora se reconhece ora se desconhece.

As palavras banais são as melhores para observação. Não damos por elas, mas basta encará-las durante muito tempo para deslumbrar coisas sem fim. Feedback é um desses casos.

Por ter crescido no ambiente descontraído dos músicos e técnicos de som, feedback nunca teve aquela carga vaidosa que caracteriza os estrangeirismos que nos encarquilham a língua. Sem qualidades para se aguentar na esfera do jargão cosmopolita, vulgarizou-se como um som desagradável. 

Um verso de um poema de Fernando Pessoa, uma vez autonomizado, ganha o valor de uma proposição que poderia ser retirada de uma obra filosófica ou de uma reflexão que tem a forma de um aforismo que constrói uma falsa evidência. Coube ao poeta e professor de Literatura Amândio Reis comentar o verso citado.

Esta crónica de Fernando Pessoa sobre a celebridade é uma meditação filosófica e um código de ética. No seu comentário, a que deu o título, vindo do Eclesiastes, de Vanitas, o poeta Manuel de Freitas parte do texto de Pessoa para fazer uma acusação à nossa época: «Vivemos num tempo em que a celebridade assenta, quase invariavelmente, em equívocos estéticos ou em rudes campanhas promocionais». E afirma: «Quanto a mim, agora quase mais velho do que Fernando Pessoa, fico feliz por haver cem ou duzentos leitores que seguem de perto os meus livros.»