Um livro sobre o discurso moral que vem das coisas, das mercadorias, enquanto «bens», apresentado pelo seu tradutor e co-responsável pela edição portuguesa.

Um olhar retrospectivo e totalizador sobre a produção cinematográfica contemporânea em Portugal, por um atento espectador e estudioso francês. O cinema português, tanto na sua difusão nacional e internacional como nas suas auto-representações, deve muito a estas imagens vindas de fora.

Leitura crítica das lições de Alain Badiou sobre o «caso» Wagner, isto é, o caso estético-político da «obra de arte total».

Termo familiar e ambíguo, designa originalmente o mundo das coisas (do latim res, realis), ou aquilo que lhes diz respeito. Nos últimos anos, porém, esta definição genérica ganhou um novo alcance. Se o século XX foi o tempo das grandes ideologias, o lugar do confronto entre vários mundos possíveis, as últimas décadas trouxeram consigo um novo apego à realidade. Tornou-se hábito apelar ao bom senso, à força das coisas, ao peso das evidências e das circunstâncias. As doutrinas do passado, demasiado abstractas, cederam o lugar a princípios concretos. O político e o pensador serenaram, fincaram os pés no chão e aprenderam a ver o mundo tal como é.

Este artigo assinado por um cientista, um astrofísico que também habita nas regiões da filosofia, parte da hipótese de que o mundo morreu, no sentido em que já se deu a perda de um «comum transcendental» que a ideia de cosmos supõe, e não haverá um mundo pós-covid-19 nem as possibilidades oferecidas por um «magma de velocidades infinitas».

É estranho compor um diário sobre o que significa viver em Queens durante a quarentena. A experiência diária da quarentena é atomizada, delimitada pelas paredes do apartamento de cada pessoa. Estes fragmentos de informação tornam-se eventos que se desenrolam no espaço entre o ecrã do meu telemóvel e a janela de onde se vê a rua.

Os fenómenos da velocidade e da aceleração determinam todos os aspectos da realidade em que vivemos, da vida cultural e social à economia. A força coerciva que impôs a toda a actividade humana um movimento cada vez mais veloz, numa escalada que pressupõe um ilimitado horizonte de disponibilidade (com enormes consequências ecológicas, mesmo quanto à ecologia do tempo e do espaço), exige uma dinâmica que não pode afrouxar porque só ela garante estabilidade. Por isso, deter este sistema abruptamente, travar a fundo o mundo ultra-acelerado, não é uma desaceleração como a que tem sido defendida pelos militantes do «decrescimento». Não é a realização de uma utopia, mas um desastre colossal. É a esse desastre globalizado que estamos a assistir, provocado por uma pandemia viral.

É uma obra imensa, atravessando vários campos disciplinares, aquela que justifica esta entrevista a Boris Groys. A filosofia, a estética, a crítica, a história da arte e a teoria dos media são os territórios onde se move este autor que se tem ocupado com um enorme saber e originalidade da arte contemporânea, do seu sistema e das suas instituições. Nascido em 1947, na antiga República Democrática da Alemanha, Boris Groys cresceu na União Soviética, estudou matemática, lógica e linguística e levou para a República Federal da Alemanha, para onde foi viver em 1981, um profundo conhecimento das vanguardas russas e da arte soviética. As relações entre a arte e a política, e entre o artista e a sociedade, são um objecto privilegiado deste professor da importante Escola Superior de Artes e Design de Karlsruhe (1994–2009) e hoje da Universidade de Nova Iorque.

O turismo é o maior fenómeno social, antropológico e económico do nosso tempo. O seu impacto na vida das cidades, na transformação da paisagem e na cultura dos países e das regiões é tão grande que nada, por onde ele avança, se mantém intacto. Visto, por uns, como um factor de devastação que atinge sobretudo os centros históricos das cidades (mas cujas ondas se propagam muito para além desses limites urbanos), entendido por outros como a realização dos mais benéficos interesses e dos mais elevados ideais, o turismo é hoje um motivo de debates, polémicas e conflitos urbanos. Convocando-o como tema central deste número da Electra, preocupámo-nos em tratá-lo como fenómeno complexo, que se oferece a uma pluralidade de análises disciplinares e suscita diferentes perspectivas ideológicas.

Neste diário, Pedro Cabrita Reis dá ao mundo o encontro dos seus sentidos. Eles aí estão todos, os cinco, astutos, activos e atentos como antenas às notícias da natureza e às cintilações da cultura.

Para o escultor, pintor, desenhador, bon vivant (no sentido mais literal) e cidadão do mundo, a arte é a vida sem aspas e a vida é a arte sem demoras. Para ele, o mundo é o atelier mais vasto e o atelier é o mundo mais próximo.

As páginas deste diário mostram-se aqui em fac-símile, porque nelas a caligrafia e o desenho cruzam-se, envolvem-se, atravessam-se, possuem-se, pertencem-se — e só nessa imagem, una e única, nos pertencem. Por aqui, passa aquilo que em Cabrita Reis é o mais nítido: uma vitalidade que torna tudo seu.

Composto segundo um calendário íntimo, apresentado como uma notação musical, este «Livro de Horas» fala-nos desse habitar poeticamente o mundo, sem o qual não o habitamos.