O filósofo francês Frédéric Neyrat, fazendo uma análise crítica do presente, identifica nele um «dilema cinético», uma hesitação entre o demasiado depressa e o demasiado devagar, dois movimentos responsáveis pela catástrofe ecológica. A interrupção, defende o autor de Biopolitique des catastrophes, é a única «terapia cinética» à altura dos grandiosos problemas com que estamos hoje confrontados.

O co-director da revista Multitudes, Yves Citton, partindo de uma distinção entre velocidade e aceleração, na linha do Manifesto Aceleracionista, de Alex Williams e Nick Srnicek, que ele traduziu para francês, vê no colapso, e não na crise perene em que vivemos, a única hipótese de uma mutação desejável. Deste ponto de vista, a única estratégia à altura do nosso tempo, consiste em acelerar o colapso.

Laurent de Sutter, professor de Teoria do Direito na Vrije Universiteit de Bruxelas e director da colecção «Perspectives Critiques» da PUF – Presses universitaires de France, desenvolve aqui uma hipótese que aceita, sob certas condições, o aceleracionismo — essa perspectiva que defende a reformulação, e não a sabotagem ou o abrandamento dos meios, das infra-estruturas que herdámos da modernidade.

Na agricultura, os métodos tradicionais e a exploração harmoniosa dos recursos foram completamente substituídos por mecanismos tecno-industriais de produção intensiva e acelerada. A obediência ao tempo longo, ao espaço extenso e às regras e caprichos da natureza tornaram-se um luxo no mundo actual. Há quem, numa posição minoritária, o pratique; e há quem afirme sem reservas os benefícios de uma agricultura que responde aos critérios mais modernos de velocidade e eficiência.

Na perspectiva do filósofo italiano Federico Leoni, o novo coronavírus não pode ser visto apenas nos seus efeitos muito evidentes de desaceleração e paragem, porque ele foi também o contrário disso, isto é, um factor de aceleração de alguns movimentos em curso, próprios do nosso tempo.

Este trabalho corresponde aos últimos onze dias de confinamento (oficial) e insere-se num trabalho mais largo intitulado Os dias estão numerados / The days are numbered, correspondendo ao período de 24 de Abril a 4 de Maio de 2020.

Eis um retrato de um grande dirigente político do século XX: Mikhail Gorbatchov. Foi decisivo o papel que desempenhou na implosão dos regimes comunistas do Leste europeu, com as consequências conhecidas para a Europa e o mundo. Mas ao seu percurso político, aqui delineado por William Taubman, junta-se a história de uma vida pessoal, que o torna uma personagem singular.

Um pintor comenta as palavras de outro pintor. Paul Gauguin, já no fim da vida, quando já não podia pintar, dedicou-se à escrita como instrumento de um olhar íntimo, autobiográfico, com uma vontade de autoconhecimento e de interrogação de uma identidade complexa. Foi desse exercício tardio, ao qual se entregou profundamente, que emergiu uma frase, aqui comentada pelo pintor João Queiroz, que é um balanço desencantado da vida.

Cada vez mais, as nossas cidades são cidades acústicas. Os espaços públicos mais vastos ou mais íntimos, são palcos onde o som está presente como actor. John Bingham-Hall é o director de Theatrum Mundi, fundado pelo grande sociólogo e urbanista Richard Sennet, e trabalha com Gascia Ouzounian, co-directora de Recomposing the City, no projecto Acoustic Cities. Neste «Metropolitano», falam do seu trabalho e dos temas fundamentais do urbanismo sónico. Entre eles, da cidadania sónica, da arqueologia sónica e da «justiça sónica como um direito a aceder ao silêncio, ou, até mesmo, a fazer ruído». Uma nova audição da cidade que fundamenta uma nova visão da cidade.

Stefan Kürten é um conceituado artista alemão que tem exposto as suas obras em instituições e galerias da Europa e dos EUA. Foi professor de pintura na Kunstakademie Düsseldorf e é hoje professor convidado Escola de Arte e Design da Alfred University de Nova Iorque. Neste portfólio que criou para Electra, o artista desenvolve alguns dos temas e motivos mais presentes na sua obra. No ensaio que escreveu propositadamente para acompanhar este trabalho, o reputado curador e crítico Gregor Jansen, director da Kunsthalle Düsseldorf, fala da inspiração que a obra de Kürten encontra no cinema e da estranha relação entre arquitectura, inocência e terror. E também das imagens e das histórias que a partir delas contamos.