Catherine Malabou é uma figura de destaque na filosofia europeia contemporânea, geralmente considerada um dos nomes mais cativantes da chamada «Nova Filosofia Francesa». Uma especialista em filosofia contemporânea francesa e alemã, Malabou é conhecida por algumas das leituras mais originais de pensadores canonizados como Hegel, Heidegger e Kant, e cada vez mais aclamada por liderar um diálogo pioneiro entre as ciências sociais tradicionais e as ciências exactas, explorando as relações entre a neurociência, filosofia e psicanálise. O caso raro de um filósofo que interage com as ciências naturais, Malabou tem levado a cabo uma leitura radical das obras de Freud, Kafka ou Espinoza do ponto de vista da neurologia contemporânea, e afirma que ainda não assimilámos as descobertas revolucionárias feitas pela biologia na última metade do século passado. Uma autora prolífica desde o final dos anos 90, a obra de Malabou continua a tomar direcções inesperadas, da exploração dos conceitos de essência e diferença no feminismo à interrogação do lugar do feminino na filosofia, da criação de uma nova teoria do trauma ao apelo a uma redefinição total do sujeito, da Inteligência Artificial às criptomoedas, da epigenética ao anarquismo. Todo este percurso se podia resumir a uma tentativa longa e consistente de reconsiderar ideias de mutação, metamorfose e transformação, consagrando Malabou como uma das mais eminentes pensadoras da mudança no nosso tempo. O conceito central ao longo da sua obra é o da «plasticidade», um termo que levantou inicialmente da filosofia continental e que tem desenvolvido nas últimas duas décadas numa aproximação a estudos neurocientíficos sobre o cérebro. A plasticidade refere-se ao poder simultâneo de dar, receber, explodir ou regenerar uma forma, à capacidade desta ser transformada mas também de se transformar a si própria. Um conceito que tem proliferado no discurso social, económico e político contemporâneo, usado repetidamente para repensar a política, literatura, arte, direito e justiça. A um tempo em que empresas e governos insistem no refrão da flexibilidade, esta filósofa convida-nos a encontrar novas formas de sociabilidade e modos de ser, reinvestindo na plasticidade constitutiva do ser humano como «princípio de desobediência interna».
Catherine Malabou é professora de filosofia europeia moderna na Universidade de Kingston (Reino Unido) e na Escola de Graduação Europeia (Suíça), e de literatura comparada na Universidade da Califórnia Irvine (EUA), ocupando a posição anteriormente detida por Jacques Derrida, o antigo orientador e interlocutor, com quem escreveu a obra La Contre-allée (1999). Entre os seus livros mais importantes, destacam-se La Plasticité au soir de l’écriture (2004), Que faire de notre cerveau? (2004), Les Nouveaux blessés (2007), Changer de différence (2009), Ontologie de l’accident (2009), com Judith Butler, Sois mon corps (2012), com Adrian Johnston, Self and Emotional Life (2013), Avant demain (2014) e Métamorphoses de l’intelligence (2017). No seu penúltimo e controverso livro, Plaisir effacé (2019), Malabou focou-se no clitóris enquanto ilha de prazer sistematicamente obliterada pelas sociedades patriarcais, não apenas da sexualidade do corpo, mas também na psicanálise e filosofia. Era apenas o prelúdio para o livro que acaba de sair, Au voleur! Anarchisme et philosophie (2022), que apela a uma elaboração filosófica da ideia de anarquia inteiramente nova, como algo mais politicamente urgente do que nunca. Catherine Malabou falou à Electra sobre alguns dos novos desafios e direcções do seu pensamento.
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