Inicio este texto em 17 de dezembro, exato dia em que completa 40 anos que se encerrou a primeira (e única) Bienal Latino-Americana de São Paulo. Ela terminava com muitas críticas, mas havia a intenção de continuidade em 1980. Tratava-se da última ideia que Francisco Matarazzo Sobrinho, o fundador da Bienal de Arte de São Paulo e do Museu de Arte Moderna de São Paulo [MASP], teve para reavivar seu mais ambicioso empreendimento, antes de falecer em 1977. Após quase uma década de boicote internacional e de artistas nacionais importantes durante o período mais recrudescido da ditadura civil-militar brasileira, o certame buscava novas formas de voltar a ser relevante e de reinventar-se. Bienais nacionais passaram a acontecer nos anos pares e a bienal internacional, nos ímpares, desde 1976, mas desde o início da década que o meio artístico brasileiro nutria o interesse em conectar-se mais vivamente com o restante do continente. Em 1951, a Bienal tinha nascido com os olhos voltados para os grandes centros hegemônicos e desejava atualizar o gosto local com o que havia de mais avançado e internacional em termos estéticos, mas em 1978 o contexto político-social-econômico do país era muito distinto, assim como a cena cultural.
As ditaduras financiadas América Latina afora pelos EUA, o pensamento terceiro-mundista e as guerras coloniais na África traziam uma nova conscientização a respeito das tramas de sucessivas colonialidades que interligavam as nações do continente. Apesar dos inúmeros pontos de convergência em vários aspectos, a região é muito heterogênea e os trânsitos muito marcados pelas línguas e historicidade coloniais, o que sempre contribuiu para o isolamento do Brasil. Nunca houve políticas de investimento no intercâmbio entre os países latino-americanos e a situação política do período não colaborava absolutamente com qualquer coisa que propusesse integração. No entanto, artistas e críticos de arte procuravam formas de aproximação e de trocas como uma maneira de lutar contra o imperialismo norte-americano e descolonizar a história da arte local. A virada de interesse de três críticos de arte no início da década de 70, cujos textos circularam por Portugal graças à revista Colóquio Artes, exemplificam este movimento: Aracy Amaral, Frederico Morais e Mário Pedrosa.
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