Energia criativa ao serviço de um humanismo ecológico, explorador dos desertos frios, antropogeógrafo, escritor de sucesso e editor, Jean Malaurie (Mainz, 22 de Dezembro de 1922 – Dieppe, 5 de Fevereiro de 2024) atravessou o século xx como um «retrofuturista», apropriando-se da máxima de Terêncio: Homo sum, humani nihil a me alienum puto [Sou um homem, nada do que é humano me é estranho].
Autor prolífico de obras que são um património, de Les derniers rois de Thulé a Hummocks, de Ultima Thulé a L’appel du nord, de Lettre à un Inuit de 2022 a Oser, résister, Malaurie foi sempre promovendo a construção de uma Civilização do Universal, plural na sua unidade, multiétnica e cheia de fecundas mestiçagens.
Grande Prémio da Sociedade de Geografia em 1996, Patron’s Gold Medal (Royal Geographic Society, 2005), Embaixador da Boa Vontade para as Questões do Árctico junto da UNESCO (2007), Grande Oficial da Légion d’Honneur (2015), Malaurie encarna a figura do intelectual inconformista e ecléctico, unus et multiplex. No dia a seguir à sua morte, o Presidente francês Emmanuel Macron prestou-lhe uma vibrante homenagem, recordando-o como «um escritor francês do Universal, um homem que soube ousar, resistir […], um grande estudioso que traçou a lenda do século»1.
Refractário, em Junho de 1943, ao «inaceitável Serviço de Trabalho Obrigatório e à colaboração paramilitar que Vichy queria manter com a Alemanha nazi»2, Malaurie, com apenas vinte anos, escolhe o seu campo e entra na clandestinidade. Este corajoso acto de resistência constitui o elemento catalisador da sua metamorfose identitária:
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