Foi fundadora, com René Bertholo, do grupo e da revista KWY. A este grupo pertenceram Jan Voss, Christo, Costa Pinheiro, Gonçalo Duarte, José Escada e João Vieira. Lourdes Castro tem apresentado a sua obra em muitas exposições realizadas em Portugal e no estrangeiro, sendo reconhecida pela crítica como uma das artistas mais inconfundíveis do nosso tempo. Com Manuel Zimbro, criou e apresentou a performance «Teatro de Sombras» em várias cidades da Europa e América Latina.
No seu trabalho, uma inteligência visual aguda e um jogo subtilíssimo questionam as divisões tradicionais da luz e da sombra, da materialização e da desmaterialização, do direito e do avesso, da realidade e da aparência, do centro e da periferia, do princípio e do fim, do corpo e do espírito. Os materiais que escolhe prolongam o gesto das suas mãos e o olhar dos seus olhos. Essa é a poética de Lourdes Castro. A sua obra é um reino encantado de que ela é a fada rainha.
Os livros de artista são, do movimento de rotação desta obra, um dos eixos. Foi neles que ela ensaiou novos começos. Foi nesses diários visuais que desenhou a sua vida com a minúcia que a torna atenta. Foi neles que ligou as palavras às imagens com a firmeza de um gesto artístico original. Foi aí que renovou uma proximidade mais alta às obras e aos autores que ama: Rilke, Rimbaud, Apollinaire ou Herberto Helder.
Lourdes Castro recebeu o primeiro Grande Prémio Fundação EDP Arte, em 2000. Este seu trabalho sobre um poema de Rainer Maria Rilke é de 1957 e estava inédito. As palavras de Rilke e as formas que as desenham e continuam com as cores de uma intensidade ágil formam o primeiro portfólio de Electra. Coincidem assim três primazias: a do prémio, a da revista e a da artista.
A obra de Lourdes Castro mostra-nos, afinal, o que Píndaro disse e Rilke sabia: O homem é o sonho de uma sombra.
José Manuel dos Santos
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