Um escultor, Rui Chafes, escreve com proximidade e sabedoria sobre a obra de um outro escultor, Manuel Rosa, a propósito da exposição antológica Clareira que foi um regresso deste à exposição pública. Segundo Chafes, a obra de Manuel Rosa «não é deste mundo veloz e apressado, feito de sucessões meteóricas de imagens e informações superficiais, que nos levam a confundir beleza com atracção fugaz, pulsação com estertor».

Um escritor português — António Cabrita —, a viver em Maputo há quase duas décadas, lança sobre a cidade um olhar analítico, sofisticado, de um amante que não perde a lucidez perante as qualidades e os defeitos da amada, ao mesmo tempo que a apreende nas suas transformações.

O escritor Gonçalo M. Tavares e o grupo de artistas-arquitectos Os Espacialistas, vocacionado para perseguir arquitecturas utópicas, dão a conhecer máquinas humanas que funcionam, não pela necessidade e pela rotina, mas pela imaginação do corpo. Este conceito, que está muito presente nas obras de ambos, será apresentado nas próximas duas edições de Electra. Com este trabalho e modo de publicação, iniciamos uma nova secção da revista: «Folhetim». Nela, acolhemos a antiga tradição editorial de ligar a fidelidade dos leitores com o fio de uma história contada em fascículos sucessivos.

Publicamos, nesta edição, o segundo episódio dos três que constituem o folhetim «Máquinas Humanas», da autoria do escritor Gonçalo M. Tavares e do grupo de artistas-arquitectos Os Espacialistas. Estas «Máquinas Humanas» «criam situações do imaginário», dizendo-nos «que quando adormecemos nem tudo é sono e sonho». E falam de um Deus que «pode ser o que está entre as pedras».

Esta é a terceira e última entrega do folhetim «Máquinas Humanas». Ao longo de três episódios, Gonçalo M. Tavares e Os Espacialistas criaram «situações de imaginário». «O que vemos nesta máquina simples é a tentativa de colocar um limite à sombra do corpo», diz-se. E acrescenta-se: «E uma única vez, a máquina de controlar a sombra colapsa por completo. É isso a morte. Perdes subitamente a localização dos pés, da sombra e, ainda, da velha circunferência do mundo.» Por isso, este folhetim é-nos, ao mesmo tempo, tão estranho e tão familiar.

Escritor e filósofo francês, Michel Erman é um conhecido biógrafo de Marcel Proust, a quem dedicou várias obras. Neste ensaio original, fala-nos da relação de Proust com o dinheiro e do que ele representou na sua obra e na sua vida, permitindo-lhe ser «ora altruísta e amigo, ora distante e dominador». Da herança que recebeu dos pais ao uso que fez dela para a afirmação literária, da comédia mundana a meio facilitador de relações amorosas e sexuais, o dinheiro foi para Proust um instrumento de compreensão do mundo e do lugar de cada um, nele.
 

Em 1928, tinha vinte anos. Havia saído de Portugal para estudar arte em Paris e, de França, foi a Itália numa viagem de estudo. Enquanto percorria os caminhos que a levaram a Milão, Verona, Pádua, Veneza, Bolonha, Florença, Pistoia, fazia, a lápis, esboços rápidos do que via, num caderno de apontamentos. Ao mesmo tempo, escrevia cartas à mãe para lhe contar, num tom cúmplice, as suas impressões, descobertas e sensações. Estes desenhos e estas cartas, que estabelecem entre si um diálogo íntimo e consonante, permaneceram inéditos. Pertenciam ao legado pessoal da artista, que foi depois integrado no acervo da Fundação Arpad Szenes – Vieira da Silva. Uma selecção destas imagens e palavras é revelada pela Electra, constituindo um documento muito interessante dos anos de aprendizagem da grande pintora Maria Helena Vieira da Silva, que nasceu em Lisboa e viveu em Paris, e cuja obra magistral está representada nos mais importantes museus e colecções do mundo.

É uma escritora com um enorme capital de prestígio, mas que permaneceu sempre minoritária, impermeável aos processos e estratégias de construção pública do escritor. A sua obra de ficção narrativa é um marco fundamental na história da literatura portuguesa do último meio século: combina uma dose de experimentalismo com as grandes referências da literatura moderna. A figura da escritora Maria Velho da Costa ergue-se, plena de distinção, na nossa paisagem literária.

Uma das pensadoras da imagem e do visual mais consagradas da actualidade, a filósofa francesa Marie-José Mondzain, enveredou recentemente pelo território da palavra escrita, abordando a obra de Kafka num surpreendente ensaio sobre a possibilidade da descolonização a partir da ficção literária. Afonso Dias Ramos escreve sobre o seu último livro, K como Kolónia: Kafka e a descolonização do imaginário.