A infâmia, o oposto da fama, foi objecto de uma procura por parte de Michel Foucault, que escreveu sobre «A vida dos homens infames». Infames são os anónimos, votados ao esquecimento, mas cuja existência obscura e infeliz fornece interessante matéria narrativa. Da família dos homens infames são os escritores sem obra, sem literatura. Sobre a misteriosa relação entre a literatura e a infâmia, a partir do texto de Foucault, escreve o ensaísta e professor de literatura Éric Marty.

Nesta «Vista», o autor grego Nikos Pratsinis escreve sobre Heráclion, a capital de Creta, a ilha do Minotauro e do Labirinto. Aqui se encontram passado e presente, deuses e humanos, terra e mar, mitologia e poesia, história e geografia, arquitectura e gastronomia, recordações pessoais e memórias culturais. Nikos Pratsinis é escritor e tradutor. Viveu alguns anos em Portugal e, com o poeta Joaquim Manuel Magalhães, traduziu para português os poemas e a prosa de Konstandinos Kavafis e os poemas escolhidos de Yorgos Seferis.

Situando-se na confluência de várias disciplinas e saberes, a vasta obra de Emmanuel Todd, pela ambição do seu alcance e pela originalidade das suas análises e teses, não tem parado de suscitar interesse e de gerar controvérsia. Usando os seus livros como pontos de apoio, Bernardo Futscher Pereira desenha-nos um pensamento que olha o espaço geopolítico do mundo e o tempo da história humana, arriscando responder à pergunta: Onde estamos?
 

Na bolsa de valores dos sentimentos, a cotação da empatia subiu muito e a da simpatia é quase lixo, já ninguém investe nela.

Peter Hill, artista australiano, curador e professor na Universidade de Melbourne, autor de uma Encyclopaedia of Superfictions, apresenta aqui, seleccionados por um tal Fernão Mentes Minto, excertos de uma «Enciclopédia da Mentira» que faz parte das suas «superficções».

Nesta recensão, Afonso Dias Ramos lê quatro livros que pensam a pandemia da covid-19 e aquilo que mudou e vai continuar a mudar no mundo. Estes ensaios são escritos por quatro autores portugueses com formações e pontos de vista diferentes. Nesta análise, salienta-se «a rara disponibilidade crítica para confrontar um evento do presente» e sublinha-se que a situação que vivemos impõe «um regime diferente de escrita».

O sociólogo italiano Vania Baldi, autor de Optimizados e Desencontrados: Ética e crítica na era da inconsciência artificial, adoptando uma perspectiva que deve muito à filosofia e à antropologia da técnica, elabora neste artigo uma reflexão que contraria a crença ilimitada, o optimismo cego e a negligência ética em relação aos novos sistemas da Inteligência Artificial.

Um dos regressos mais desejados nos tempos que correm parece ser o da ética à política, desejo que vem acompanhado da constatação de um abandono mais ou menos duradouro. A presença deste desejo e desta constatação podem ser verificadas em forças e agentes normalmente apontados como antagónicos. Se pegarmos numa das oposições de maior circulação nos dias que correm, constatamos que tanto os defensores do liberalismo democrático como os movimentos comummente designados de populistas dão lugar de destaque à ética.

«Alguém disse ontem que se o ano de 2020 fosse um país seria a Sérvia» — lê-se neste intenso e belo diário, escrito na capital da Sérvia, num tempo em que a pandemia tomou conta de tudo. De Belgrado, vê-se o mundo. A sua autora, Jelena Bogavac, é encenadora, dramaturga, escritora, poeta, performer, editora, com participação activa nos mais importantes festivais internacionais de teatro contemporâneo. A partir da sua experiência pessoal, familiar, artística e intelectual, Jelena observa, pensa e conclui: «A vida está a acontecer agora. E o depois nem sequer está próximo.» «O grande medo é substituído pela grande loucura.» Neste diário, onde isto se afirma, os dias estão tão presentes que não precisam de ser numerados. São os dias dela e da sua cidade — são os nossos dias e dos nossos lugares, às vezes sem lugar.

Nesta entrevista por escrito, Éric Marty detém-se nalgumas estações obrigatórias do seu livro Le sexe des Modernes: as consequências do binómio sexo/género, o «trans» como a figura que perturba a teoria do género, e o diálogo crítico com Judith Butler.