A água corre veloz e opaca na confluência dos rios Steyr e Enns. Ambos nascem nas altas montanhas a sul; o Enns desagua no Danúbio, ao qual se junta. As cidades de Steyr e Enns, hoje relativamente pequenas, marcam os pontos onde terminam os rios seus epónimos. Terminam? São estações de transbordo; como se levassem a água até à porta para vê-la partir de novo. Steyr, o nome do rio, do eslavo stira, significa congestão, remoinho, ondulação — fenómenos que ainda hoje caracterizam o rio. A água, vinda das montanhas, chega fria e célere às planícies arenosas, onde segue, alvoroçada, um percurso serpeante que se assemelha a veias varicosas quando visto de cima.
O Steyr e o Enns, cursos de água de dimensão mediana, foram outrora as artérias por onde corria o comércio metalúrgico e madeireiro. Os dois estão ligados: já nos mais antigos fornos de fundição conhecidos, os humanos criaram desertos nas áreas circundantes ao abaterem as florestas para reunirem a quantidade imensa de madeira necessária para alimentar os fornos. Na Europa, as temperaturas de fundição não excederam os 1200–1500 °C até meados do século XIX. A verdade é que o ponto de fusão do ferro, a 1538 °C, era evitado porque o ferro fundido se torna quebradiço, não podendo ser martelado: a gusa, nesses tempos, era quimicamente um caminho sem saída. Nas Rennöfen, as forjas de ferro, o fogo e o calor subiam pelas camadas empilhadas de madeira e minério dentro de um forno com uma forma própria para esse fim. O minério era aquecido por períodos de cerca de 70 horas, com recurso a um fole accionado pela água que corria por baixo do forno, ou pela corrente de ar, se os construtores da forja a conseguissem instalar nalgum canto propenso a ventos fortes.
Em 2023, para chegar ao Steyr sai-se do comboio rápido em Linz ou em St. Valentin e muda-se para o comboio S-Bahn local. À excepção da hora de ponta da manhã e do fim-de-semana, altura em que os estudantes regressam a Viena com a roupa lavada, o S-Bahn está por norma quase vazio. Em Herzograd, a certas horas, os grupos de trabalhadores dos turnos percorrem a pé os terrenos onde a relva cresce, como se fossem alheios ao processo intrincado de injecção e drenagem de recursos humanos que perpassa, pulsante, por qualquer paisagem urbana. Se a industrialização é em geral acompanhada pela desertificação, também os processos modernos criam paisagens áridas pela ausência de vida humana, excepto nestas porções moleculares de que surtem efeitos surpreendentes.
A linha do comboio e a auto-estrada acompanham a curva do rio ao longo da planície, aconchegadas como duas foices. Já em tempos célticos esta região era um centro metalúrgico e uma das principais fontes de metal para os Romanos. O aço era martelado, endurecido e separado em diferentes tipos para diferentes usos. No século XIV, venderam-se milhões de facas vindas de Steyr no mercado de Pécs, na Hungria. Os fornecedores viajavam até Eisenerz, entre as montanhas, e trocavam comida por aparas de minério que traziam de volta para vender, para além dos carregamentos de grande volume que eram levados em barcos.
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