«Quando se faz desaparecer uma pessoa, quando se destrói um país, é uma língua que está a ser assassinada.» Estas palavras, proferidas por Pinar Selek — escritora turca presa e torturada no seu país pelas suas actividades pró-arménias e hoje exilada em França —, tiveram um efeito especial sobre mim. Lembraram-me as do meu pai quando, à falta de outras ameaças, antes de bater-me, me dizia: «Cala-te, ou corto-te a língua!»
Nas Metamorfoses de Ovídio, Tereu aprisiona Filomela e corta-lhe a língua antes de molestá-la, para que ela não possa denunciá-lo a Procne, mulher de Tereu. Mas Filomela faz chegar a Procne um pano onde bordou o rosto de Tereu, identificando-o pelo nome. Como vingança, Procne mata o seu filho mais novo, corta-o aos bocados, assa-o e serve-o de jantar ao seu marido.
Os laços entre violência, silêncio e morte existem desde sempre nos mitos da humanidade.
«Ma era solo un modo di dire» — mas era só uma maneira de falar —, diz-se, na minha família, quando se fala do que me aconteceu na adolescência. Fui obrigada a abandonar a minha casa de infância e o meu país para fugir à violência do meu pai. «Un modo di dire»? Para mim, o que essa expressão quer dizer é que, quando as palavras faltam, a agressão toma o seu lugar.
Dupla constatação: aquela que fala é perigosa. Aqueles a quem faltam as palavras batem. A palavra dita expõe. A palavra mata — mata.
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