A tão depreciada arquitectura do Centro Pompidou era representativa de uma revolução industrial e cultural. O mundo tinha mudado, os ateliers dos artistas tinham-se transformado em fábricas, o design era industrial, o petróleo tinha abalado o modo de circulação no mundo, um movimento de transformação dos modos de vida tinha-se desencadeado. E é este movimento que esta arquitectura reflecte.
Na verdade, este edifício, segundo os seus arquitectos, não é um edifício, mas um engenho móvel, evolutivo e flexível, uma ferramenta viva. Em teoria, pode ser desmontado ou ampliado. Deve mostrar a força e a originalidade do século XX expressas no cinema, na televisão, nos computadores, nas naves espaciais, combinando-as com a arte e fazendo-as dialogar, pois foi neste contexto que os artistas de todas as disciplinas se exprimiram. A transparência da fachada convida ao diálogo entre o público que está fora e aquele que está no interior do Centro, no qual a entrada é gratuita. O hall de entrada, chamado Fórum, foi concebido originariamente como uma passagem entre duas ruas, a rua du Renard e a rua Quincampoix. Atravessando o Fórum, que se queria como uma praça coberta prolongando a praça exterior do Centro, entrava-se num «centro dentro do centro», onde se encontravam as antenas de todos os seus departamentos. Assim, um peão que atravessasse esta praça podia fazer um desvio através de uma galeria de exposições ou ler uma revista ao longo do seu trajecto. Voltaremos a este ponto, pois actualmente este Fórum tornou-se um centro comercial cultural, a caixa de financiamento do Centro.
Quanto à escada rolante ao longo da fachada e que os visitantes devem tomar para aceder aos diferentes espaços, libertando assim o interior de um grande número de elevadores, é como uma «rua ascendente» e o público que a utiliza cria um fresco humano que a torna mais viva. O público devia fazer parte da arquitectura e do seu movimento. A escada oferecia também uma das mais belas vistas sobre Paris, permitindo fazer uma ligação entre o passado e o presente que espera o visitante.
A política cultural do Centro exprimir-se-ia no agenciamento dos seus espaços. A aparente complexidade do Centro é a complexidade de uma cidade e dos seus mistérios. Quis-se recriar ruas, uma praça, casas, para que o encontro com a arte fosse tão imprevisto e familiar como um encontro na cidade. Mas, como em cada cidade, um plano permite também a orientação e dar um sentido e uma identidade a cada bairro.
Dois movimentos operam a um ritmo diferente. O que acontece nos espaços ditos «comuns», ou seja, no subsolo, no Fórum central, no rés-do-chão e no 5.º andar, são eventos temporários. Em contrapartida, as obras expostas no Musée nationale d’art moderne (MNAM), situado nos 4.º e 3.º pisos e as obras da Bibliothèque publique d’information (BPI), situada nos 1.º e 2.º pisos, fazem parte das colecções permanentes.
O Centro apresenta-se como uma roda-gigante de exposições e de eventos temporários, que gira em torno de um espaço fixo, cujos dois corações são o museu e a biblioteca. A unidade, a força e a novidade do Centro assentam na junção destes dois movimentos, nos espaços comuns, concebidos para convidar o público a regressar com frequência e a encontrar sempre uma proposta diferente. Nestes espaços, os acessos são gratuitos, quer se trate de arte contemporânea, de arquitectura, de livros, de atelier e biblioteca infantil, de exposições monumentais (no fosso do Fórum), de concertos, espectáculos de dança, conferências ou debates (na cave).
No 5.º andar apresentavam-se as grandes exposições que marcaram uma época, como o ciclo concebido por Pontus Hultén, Paris-New-York, Paris-Berlin, Paris-Moscou e Paris-Paris. O coração do Centro (o museu e a biblioteca) vivia num ritmo diferente, mais intimista, mais limitado, pontuando esta espiral que o envolve.
Este princípio esteve na base do imenso sucesso do Centro Pompidou desde que abriu portas. O público descobria a felicidade de poder circular nesta colmeia de expressões artísticas a descobrir ou a confrontar com as dos mestres, já que o itinerário do museu se inicia com os impressionistas e fauvistas, que fazem a ligação com o final das colecções do Museu d’Orsay até à actualidade.
Qual foi, agora, a evolução do Centro Pompidou?
Quando abriu, desde a cenografia das colecções, passando pelas temáticas das grandes exposições temporárias do 5.º piso, até às exposições no Fórum e na mezzanine, tudo era inovação em relação aos critérios académicos.
Na inauguração, a apresentação das colecções permanentes assentava num princípio museográfico comum a todos os espaços do Centro, acolhessem eles obras de arte ou documentos. As palavras-chave eram mobilidade, flexibilidade, transparência, liberdade de circulação, abertura para a cidade, etc.. O princípio era promover um olhar que abrangesse várias obras de artistas diferentes da mesma época, estimulando assim, simultaneamente, a descoberta do meio artístico e mostrar as diferenças, as variações, as afinidades. Assim, desde o momento em se entrava, podiam ser descobertos num mesmo espaço as obras de Rousseau, Matisse, Picasso, Léger, Braque, Bonnard. Como afirmava Pontus Hultén, o seu primeiro director, «o esquema proposto é o de um fio condutor que se segue, inspirado na forma das cidades, com praças, alamedas, becos, respeitando as oscilações da vontade, do interesse e até do cansaço».
No 3.º piso, encadeavam-se as obras do fauvismo até Chagall, que encontrávamos no 4.º piso, juntamente com as obras do pós-guerra de Matisse, Léger e Picasso; depois, separada por uma parede corta-fogo, vinha a arte contemporânea francesa e internacional. O conjunto labiríntico pretendia sugerir aos visitantes uma história da arte tecida por múltiplas relações.
Logo de início, no 5.º piso, sucederam-se as grandes exposições pluridisciplinares Paris–New York, Paris–Berlin, Paris–Moscou e Paris–Paris com a ideia de uma história multíplice sempre presente, desta vez misturando as obras dos artistas com o design, os cartazes, a literatura, a música, etc.. Foram grandes frescos da história de arte do século XX. Os seus espaços eram partilhados com exposições monográficas consagradas àqueles que marcaram o século passado, como Marcel Duchamp, Malevitch, Dalí ou Magritte.
No Fórum, no «centro dentro do centro», um fosso permitia a apresentação de obras monumentais, sempre temporárias. Houve o Crocrodrome, criado por Jean Tinguely, Niki de Saint Phalle, Bernard Luginbuhl e La Boutique aberrante, de Daniel Spoerri. Sucederam-se aí as decorações murais de Dalí para a Exposição Universal, o projecto de Picasso para a cortina de palco de Le Train bleu, três totens musicais de Takis, uma instalação vídeo de Nam Jun Paik, esculturas de Calder, etc.. Antecipava-se o «ambiente» como obra de arte. Ao entrar no Centro, o visitante recebia um choque visual que dava o tom do lugar onde entrava.
Tudo isto não impedia que à sua volta se fossem descobrindo espaços mais modestos, mas igualmente inovadores. O «atelier do artista» era uma sala consagrada cada mês a um jovem artista. As Galeries contemporaines, a Salle animation, o Salon photo, a Galerie do Fórum, todos estes espaços apresentavam a actualidade artística, fosse ela cinematográfica, fotográfica ou obras de grandes artistas franceses e internacionais.
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