Como é que a figura da barricada se relaciona com a forma dos nossos edifícios e cidades actuais? Podemos aprender alguma coisa com a sua arquitectura, a sua história e o modo como faz referência à perspectiva anarquista, a qual tem estado amplamente ausente do nosso pensamento urbano, marcado pelos grandes dogmas do urbanismo e do planeamento urbano? Pode o pensamento anarquista produzir um tipo particular de arquitectura, da mesma forma que cada ideologia política — social-democracia, liberalismo, comunismo ou fascismo — produziu o seu? Esta foi a questão que colocámos durante um seminário orientado pelo Studio Muoto na Universidade Técnica de Viena, na Primavera de 20241. O seminário respondeu a uma exposição realizada em simultâneo no MAK, o Museu de Artes Aplicadas de Viena, intitulada Protest Architecture: Barricades, Camps, Superglue, a qual apresentava uma arquitectura de revolta, sob a forma de maquetes particularmente realistas, reproduzindo acampamentos e instalações temporárias erguidos durante contextos de revolta reais2. Neste texto, queremos considerar esses dois eventos paralelos para interrogar a possibilidade de uma arquitectura conciliável com o pensamento anarquista, ou seja, aberta à ocupação e livre da pressão da todo-poderosa opinião pública. Será ela possível? E com o que é que se pareceria?
Numa época em que a regulamentação prolifera, ao ponto de se sobrepor a si própria, as nossas cidades e edifícios estão a tornar-se uma expressão cada vez mais imediata da nossa democracia, do seu princípio de escolha, do seu modo de governação e do seu poder regulador. Cada material usado numa fachada é discutido, cada plano tem de ser aprovado. O lado positivo deste processo é as nossas cidades e edifícios terem um aspecto limpo e seguro, e manifestarem uma certa harmonia, com a redução de conflitos entre residentes. O nosso ambiente urbano é o produto daquilo que concordamos ser bom, daquilo que a maioria de nós acha que deve ou não ser permitido. No entanto, esta situação levanta a seguinte questão: nesta procura pela perfeição colectiva, não estaremos a sacrificar grande parte da nossa liberdade?3
Partilhar artigo