Diz o mestre da segunda geração da École des Annales e teorizador da história da longa duração, ou do tempo longo, e da civilização material:
A história faz-se do que, dela, continua em nós e nos faz lembrar o que não vivemos, ou imaginar o que vivemos e assim se faz ainda mais nosso. O grande historiador Fernand Braudel, num dos seus «Escritos sobre a História» (Posições da História), afirma que as grandes convulsões políticas e sociais nos intimam a pensar ou a repensar o Universo.
Da tormenta da grande Revolução Francesa, que durante anos foi toda a história dramática do mundo, nasceu a meditação do conde Saint-Simon, depois as dos seus discípulos inimigos, Augusto Comte, Proudhon, Karl Marx, que não cessaram desde então de atormentar os espíritos e os raciocínios dos homens… Pequeno exemplo, mais próximo de nós: durante o Inverno que se seguiu à guerra franco-alemã de 1870–1871, não houve melhor testemunha do que Jacob Burckhardt, resguardado na sua querida Universidade de Basileia! E, no entanto, a inquietação visita-o, uma necessidade de grande história pressiona-o. As suas lições, durante esse semestre, são sobre a Revolução Francesa. Ela é apenas, declara ele numa muito justa profecia, um primeiro acto, um levantar de cortina, o instante inicial de um novo ciclo, de um século de revoluções, destinadas a durar… Século interminável, na verdade, e que marcará com os seus traços vermelhos a estreita Europa e o mundo inteiro.
Ao evocar o historiador, historiador de arte e filósofo da história Jacob Burckhardt, Braudel traz até nós o autor de A Civilização do Renascimento em Itália, em cuja obra a face do poder e a face da cultura se contemplam, espiam e medem mutuamente, assumindo esses olhares, impiedosamente correspondidos, uma importância fundadora. A primeira parte do seu livro sobre os séculos XIV e XV italianos tem por título «O Estado considerado como obra de arte». No século XX, o crítico de arte, filósofo e teórico dos media Boris Groys publicou um livro intitulado A obra de arte total do estalinismo. Há grandiosos acontecimentos da política que se tornam grandes acontecimentos do pensamento e da cultura — e reciprocamente.
As revoluções, que viraram o tempo contra si mesmo, são alguns desses acontecimentos memoráveis que seguem a sua rota através de nós e do que, de geração em geração, vamos fazendo deles e da sua memória entregue, acolhida, contestada e transfigurada às gerações seguintes. Com eles e por elas, o mundo tornou-se outro e o olhar humano pousa sobre esse mundo-outro e, para o reconhecer, tem de a si-mesmo se desconhecer no seu velho hábito de olhá-lo para o compreender.
Assim acontece com a Revolução Americana de 1765 a 1791, com a Revolução Francesa de 1789 a 1799, de que falava Braudel, com a Revolução Russa de 1917, a Revolução Cubana de 1959 ou com a Revolta do Maio de 68. E, em Portugal, com a Revolução Liberal de 1820, com a Revolução Republicana de 1910 ou com a Revolução Democrática do 25 de Abril de 1974.
Todos estes grandes sismos políticos, além e aquém das rupturas institucionais e das transformações políticas, sociais e económicas que deles nasceram, ergueram diferentes imaginários e distintos sistemas simbólicos, criaram novos conceitos, novas palavras, novas imagens e novas obras de arte, provocaram fracturas éticas, causaram vertigens estéticas, originaram metamorfoses artísticas, geraram evoluções culturais. Mudaram os costumes, os códigos, os signos e as iconografias. Substituíram frases, formas, figuras, forças, fantasmas…
Uma famosa afirmação diz que uma revolução não é um convite para jantar. Mas foi e é um convite para pensar, escrever, pintar, desenhar, esculpir, compor, cantar, tocar, dançar, fotografar, filmar.
O 25 de Abril de 1974, cujos cinquenta anos estão a ser celebrados em Portugal, tem sido, ao longo deste meio século, inspiração e motivo de criação para poetas, romancistas, dramaturgos, cineastas, pintores, escultores, arquitectos, músicos, bailarinos. E também para o trabalho de filósofos, historiadores, sociólogos, juristas, politólogos, jornalistas. Tudo o que por eles foi feito, na sua multiplicidade e variação, faz parte de uma herança que durará mais do que nós, juntando assim um outro património ao património do que aconteceu e foi descontinuidade e início, rasgão e rasgo, encantamento e tentação, utopia e ilusão, construção e destruição, deriva e desvio, esperança e frustração, miragem e desencanto, sonho e realidade.
Esse é um legado cultural que se considera, avalia e renova, quando os anos em que o tempo se conta se intervalam como os marcos miliários que existiam nas longas estradas romanas, merecendo e impulsionando uma comemoração mais assinalada e distinguida, mais perscrutadora e prospectiva.
Nos cinquenta anos do 25 de Abril, vemos, ouvimos e lemos — e há, nisso, uma vontade de reencontro com a origem, com o ponto de partida, com a página em branco, com o momento inicial, que é como se fosse o da criação de um mundo novo ou da invenção do novo no mundo velho.
É, por isso, propiciatório darmos a palavra a quem viveu a Revolução do 25 de Abril e fez do vivido um testemunho alto como um vulto e duradouro como um alcance.
Lemos o que conta a escritora Sophia de Mello Breyner Andresen, em palavras registadas num caderno inédito e que estão cheias de um ímpeto revelador e de uma potência primordial. Este testemunho desvela também a génese do poema que se tornou um símbolo maior e o mais citado de todos os poemas que celebram essa festiva revolução portuguesa que pôs fim a uma longuíssima ditadura de quase meio século, que parecia ter-se tornado natural, normal e perpétua.
Anotou a grande poeta:
Em 25 de Abril de 1974, às quatro horas e meia da manhã, um amigo telefonou a dizer-nos que abríssemos o rádio, pois havia uma revolução.
O quarto em que ouvíamos o rádio tinha uma porta de vidro que dava para o jardim. E à medida que víamos a revolução avançar, e construir-se, víamos crescer a claridade do dia e sentíamo-nos emergir das trevas e do opaco. Foi para nós mais do que uma revolução, foi uma ressurreição. Era Páscoa. Vi um povo inteiro habitar a transparência. Vi multidões dançar de liberdade.
Às vezes, olhávamo-nos uns aos outros e perguntávamo-nos uns aos outros: «Será que estamos a sonhar?»
E um dia um amigo disse: «Mesmo que esta revolução falhe, mesmo que tudo tenha de acabar em desastre, nós vivemos isto.» Pois o 25 de Abril era para nós mais do que uma libertação política, era a libertação da vida, a renovação do mundo. Por isso, nesses dias escrevi:
Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo
Antes, Sophia havia escrito poemas de resistência e acusação, de oposição e denúncia da ditadura, da guerra colonial e do escândalo da sua interminável continuação. E escreveu, depois, poemas de celebração, alegria, advertência e aviso à revolução e aos perigos que, nascidos do seu centro, a rodeavam e cercavam como um anel que aperta. Esses poemas, os de antes e os de depois, emergem hoje das circunstâncias que os motivaram e permanecem intactos, na sua força verbal e poética, e actuais, no seu ensinamento moral e político.
Assim é, e assim continuará a ser, porque as palavras que os constituem se defendem e os defendem daquilo que os poderia degradar e inutilizar. Os poemas políticos de Sophia não são feitos das palavras mortas que servem os lugares-comuns gastos e não pronunciam slogans propagandísticos e exaustos. Ela costumava citar um provérbio africano do Burundi que afirma: «Uma palavra que está sempre na boca transforma-se em baba.» As palavras dos seus poemas políticos são palavras que permanecem vivas porque falam da vida na política e falam da política na vida:
Sabemos que a vida não é uma coisa e a poesia outra. Sabemos que a política não é uma coisa e a poesia outra.
Procuramos o coincidir do estar e do ser. Procurar a inteireza do estar na terra é a busca da poesia.
E acrescenta:
E quando a palavra da poesia não convier à política, é a política que deve ser corrigida. Por isso é da verdade e da essência da revolução que sempre a poesia possa criar livremente o seu caminho.
E é muito importante que se compreenda claramente que a arte não é luxo nem adorno. A história mostra-nos que o homem paleolítico pintou as paredes das cavernas antes de saber cozer o barro, antes de saber lavrar a terra. Pintou para viver. Porque não somos apenas animais acossados na luta pela sobrevivência.
E se a política deve desalienar a nossa vida política e a nossa vida económica, é a poesia que desaliena a nossa consciência.
Porque propõe ao homem a verdade e a inteireza do seu estar na terra toda a poesia é revolucionária.
Por isso a forma mais eficaz que o poeta tem de ajudar uma revolução é ser fiel à sua poesia. Escrever má poesia dizendo que se está a escrever para o povo é apenas uma nova forma de explorar o povo.
Quem está realmente empenhado num país melhor e numa sociedade melhor luta pela verdade da cultura. Aquele que é conivente da mediocridade é inimigo de uma sociedade melhor, mesmo que apregoe grandes princípios revolucionários. A revolução da qualidade é radicalmente necessária a uma revolução real.
Onde a poesia não estiver nada de real pode ser fundado.
(Comunicação ao 1.º Congresso de Escritores Portugueses, Maio de 1975)
Lemos agora estas palavras exactas como uma geometria. Elas estão cheias de exigência e de alarme, de vitalidade e de vigor. Ao pé delas, as nossas pobres palavras políticas de hoje parecem descoloridos fantasmas sem rosto e sem nome.
As palavras de Sophia constituem, por isso mesmo, uma acusação ao nosso mundo e ao nosso tempo, aos quais as grandes e exemplares questões que essas palavras põem parecem alheias ou incompreensíveis, assim fossem ditas numa língua longínqua ou escritas num alfabeto desconhecido. Que mundo e que tempo são estes em que falarmos de inteireza e de desalienação, da revolução da qualidade e da busca da poesia que funda o real parece ser um falar nascido de uma pulsão anacrónica ou privada de sentido?!
E, no entanto, a relação — afinidade, oposição, conflito, submissão, insubordinação — entre a política e a cultura, entre a política e a arte, entre a política e a linguagem é um tema (dizemos melhor: um problema) omnipresente na história intelectual e política da modernidade.
A obra de Walter Benjamin dá disto um testemunho inesgotável e visionário. E, algumas décadas depois, os livros de Milan Kundera, fundados numa experiência política e existencial tão diversa, é também disso que falam com perspicácia e sarcasmo.
Não podemos, de facto, esquecer que a relação entre a política e a palavra, de que Sophia fez um motivo importantíssimo da sua arte poética e da sua poesia, é um tema que vem dos gregos (sofistas, Platão, Aristóteles) e, depois, dos romanos, mas que se tornou, com a Revolução Francesa e as revoluções que se lhe seguiram, um constante e renovado motivo de reflexão filosófica e de indagação intelectual.
Dando razão ao que dizemos, George Steiner usa esse topos para fazer um severo diagnóstico da nossa época e da nossa cultura. No conhecido ensaio «A retirada da palavra» (1961), mais tarde coligido no livro Linguagem e Silêncio, este professor e crítico literário, que gostava de ser chamado «mestre da leitura», trata do ignominioso abuso e da violência violadora exercida sobre a linguagem nos e pelos regimes totalitários (existe, sobre isso, uma obra fundamental da autoria de Victor Klemperer, intitulada A Linguagem do Terceiro Reich). E reflecte ainda, já nessa distante década de 60, sobre a degradação da linguagem operada pelas pulsões demagógicas e populistas nas democracias de mercado e de consumo de massas.
Afirma Steiner:
É absolutamente indubitável que o acesso de semianalfabetos ao poder económico e político acarretou uma grave perda de riqueza e dignidade no plano da linguagem.
Tentei mostrar algures, referindo-me à situação da língua alemã sob o nazismo, o que a bestialidade e a falsificação políticas podem fazer a uma língua quando esta é cortada das raízes da vida moral e emocional, ossificando-se em estereótipos, definições acríticas, termos redundantes. O que se passou com a língua alemã está, todavia, a passar-se menos espectacularmente um pouco por toda a parte. A linguagem dos mass media e da publicidade em Inglaterra e nos Estados Unidos, aquilo que passa por aprendizagem das letras nas escolas secundárias norte-americanas ou no estilo do debate político actual, são provas manifestas de um abandono da vitalidade e da precisão. O inglês falado por Eisenhower nas suas conferências de imprensa, como o usado para vender um novo detergente, não visava nem comunicar verdades críticas acerca da vida do país, nem despertar a inteligência do ouvinte. Foi concebido para se furtar às exigências do sentido ou para as ignorar.
Este sombrio olhar que o autor de Presenças Reais e de Gramáticas da Criação lança sobre a linguagem da política nas democracias tornou-se uma predição que descreve tragicamente o nosso tempo. Tudo o que ele disse, há mais de seis décadas, não tem parado de ganhar uma inquietante e acrescida gravidade, e pode, agora, ser repetido, reiterado, reafirmado, com aumentado susto e sobressalto.
Na sua meditação crítica, Steiner conclui que «quer seja o declínio da força vital da própria linguagem que contribui para a degradação e dissolução dos valores morais e políticos, quer seja o declínio da vitalidade do corpo político que mina a linguagem», uma e outra coisa concorrem e confluem para ameaçar a linguagem e empobrecê-la, degradando a comunicação humana, a criação cultural, o exame crítico, a argumentação racional, o vínculo representativo, a credibilidade da política — e impulsionando um novo, crescente e estranhamente tolerado, ou até insolitamente exibido e enaltecido, analfabetismo.
Basta assistirmos, nos nossos dias, à sucessão de comentários e comentadores no espaço público e à sua competição desvairada e desabrida, para assegurarem a sua participação ululante na sociedade do espectáculo, para ficarmos sem nenhuma dúvida sobre os tristes prestígios da ignorância e os indecorosos benefícios da incultura e até da óbvia idiotia. E ficamos também inteiramente esclarecidos sobre as avultadas vantagens da insuficiência moral e da depreciação ética.
Aquilo que, ainda recentemente, o Presidente francês Emmanuel Macron designou, com apreensão e um mal disfarçado sentimento de culpa, por «crise do modelo democrático» está declaradamente presente e é notoriamente exibido na linguagem da política e na degradação patente em todos os seus cenários, canais, dispositivos e suportes: das tribunas parlamentares às redes sociais, dos discursos oficiais aos debates televisivos, dos soundbites mediáticos aos slogans propagandísticos, dos massificados comícios aos individualizados podcasts, das promessas eleitorais às fake news.
A Electra tem prestado uma assídua atenção a estes assuntos, por considerá-los fundamentais no contributo que queremos dar a um necessário e exigente diagnóstico do mundo contemporâneo. Do dossier que dedicámos ao estado da democracia àquele em que tratámos do jornalismo e dos media, falámos, afinal, daquilo de que estamos de novo a falar e de que Sophia e Steiner, de maneira directa ou indirecta, falaram premonitoriamente nas suas reflexões sobre a palavra da política.
O dossier deste número da nossa revista é dedicado ao tema do excesso, também ele fundamental para compreendermos a nossa «grande época».
Nas revoluções existem sempre excessos e nas contra-revoluções também. Isso sempre se viu e sempre se soube que faz parte da sua lógica hipertrófica e da sua dinâmica hipertélica.
Do que talvez ainda não nos tivéssemos dado bem conta é que o excesso passou a ser também a medida (ou a desmedida) das democracias contemporâneas. Basta olharmos para o espaço público-mediático que nelas se produz para vermos o excesso e o excessivo por todo o lado. Os populismos são, antes de mais, fenómenos de excesso verbal, emocional e comunicacional — e isso é inseparável da sua incansável pulsão predadora e agressiva. Simetricamente ao que dizia o arquitecto Mies van der Rohe («less is more»), nos populismos, os excessos são defeitos e o mais torna-se sempre menos.
Mimetizando os cenários arrepiantes da ascensão e tomada do poder dos totalitarismos na Europa dos anos 20 e 30 do século XX, as recentes invasões ao Capitólio, nos EUA, e ao Congresso, no Brasil, foram precedidas, impulsionadas, acompanhadas, garantidas e justificadas por um caudal ininterrupto e interminável de excesso verbal. E, assim, a relação entre a palavra e a política ganhou, hoje, uma nova e assustadora acuidade, ao mesmo tempo dramática e grotesca. Esse fenómeno — com aquilo de que constitui sintoma — também é analisado no nosso dossier sobre o excesso.
Nesta edição, damos a conhecer o interessante testemunho da filósofa italiana Donatella Di Cesare sobre como viveu o 25 de Abril português. E o trabalho que aqui mostramos, da autoria de Sónia Vaz Borges, Mónica de Miranda e Vânia Gala, que asseguram a representação de Portugal na Bienal de Arte de Veneza deste ano, torna presente o colonialismo, a luta pela independência e a descolonização. Falar disso é falar ainda — com outro olhar — do 25 de Abril. Estes temas estão também presentes na entrevista do filósofo Michael Hardt publicada na secção «Primeira Pessoa».
Emmanuel Levinas afirmou que alguém dizer a outro alguém «Depois de ti», dando-lhe assim prioridade na passagem, representa um dos mais requintados e atenciosos gestos humanos. Talvez seja igualmente um dos mais democráticos.
Tal gesto parece ser cada vez mais raro de observar num mundo em que todos querem ganhar a todos e todos querem ter o primeiro lugar em tudo. Para esses, o «Depois de ti» é sempre trocado pelo «Antes de ti», ou mesmo pelo «Sem ti»…
Irmão desse gesto de dar a primazia da passagem a alguém é esse outro gesto de dar-lhe a palavra antes da minha, para o escutar, entender — e, cumprindo uma suprema forma de delicada dedicação, de o questionar ou contestar, se for esse o caso. Foi isso que fizemos com Braudel, Sophia e Steiner, neste Editorial.
Para falarmos de revolução, de política e de linguagem nas fragilizadas democracias actuais, demos a palavra a quem falou disso, com tanta presciência e sabedoria que devemos escutar e pensar no que disseram num tempo que anunciou este nosso tempo.
Nos cinquenta anos da Revolução dos Cravos (esta é uma imagem tão visual e tão icónica que foi retomada por vários pintores e desenhadores), no meio de tantas incertezas e de tantas ameaças, de tantos reptos e de tantos perigos, encontramos nas palavras dos escritores, nas imagens dos artistas plásticos e nos sons dos músicos que ela inspirou uma memória, ao mesmo tempo celebratória, testemunhal e crítica, que faz com que a história se continue em nós e possa ser transmitida àqueles que um dia, que nunca vem muito longe, nos dirão «Depois de vós».
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