Ócio, lazer, trabalho, tempo livre, entretenimento: estes conceitos e figuras, em torno dos quais se construiu o dossier temático que aqui apresentamos, formam uma constelação habitada por muitas tensões a que o nosso tempo imprimiu um certo movimento. Há oposições que desapareceram ou foram substituídas por outras; há expansões e posições triunfantes, é o caso do lazer, como seria de esperar numa sociedade que colocou o trabalho no seu centro e expulsou o ócio, como quem erradica um vício ou um mal. Actualmente, as actividades que eram filhas do ócio (as artes, a literatura, as ciências, a filosofia, etc.) foram assimiladas ao trabalho e, portanto, recaem sob o seu regime. A relação com o tempo acelerado e o triunfo da forma mercadoria, até ao ponto em que o próprio lazer foi completamente capturado por ela, determinam em grande parte as modalidades e o estatuto do lazer na nossa época. Ao mesmo tempo, o entretenimento programado e obrigatório monopolizou extensos territórios da cultura e tornou-se uma tarefa que prolonga aquelas que recaem na categoria do trabalho. O que é uma prova de que se dissolveram, ou pelo menos enfraqueceram, as fronteiras entre algumas destas entidades.