O tema do dossier que elaborámos para este número da Electra enuncia-se numa dicotomia que é quase um matriz das diferenças arquetípicas: cidade–campo. Impõe-se no entanto afirmar à entrada, quase em jeito de aviso aos incautos, que esta dicotomia, mantendo muito embora o seu valor expressivo e simbólico cristalizado pelas nossas representações binárias, já não tem a pertinência e o teor operatório de outrora. Tal polarização continua acesa na nossa imaginação e corresponde até a um ideal, mas em muitos aspectos já não corresponde à verdade do seu sentido original: o campo está cada vez mais semelhante à cidade ou, pelo menos, acolhe cada vez mais modos de trabalho e estilos de vida urbanos. Como escreveu há mais de uma década o arquitecto holandês Rem Koolhaas, num texto que intitulou precisamente Countryside, até «o cultivo da terra é agora uma prática digital».