Este centenário, pelo menos em Itália, está cheio de surpresas. Até há poucos anos, e ainda no ano passado, o debate sobre Pasolini centrava-se, com pouquíssimas excepções, nas causas, homofóbicas ou políticas, da sua morte violenta e cruel. Era considerado irrelevante que a vítima fosse um poeta, até porque se instalara a dúvida sobre se ele fora, de facto, um poeta. Hoje, pelo contrário, há um coro unânime: foi um poeta quem morreu numa praia de Ostia, a dois passos de Roma; e era poeta não apenas quando compunha versos, mas também quando escrevia os seus romances, dos Ragazzi di vita a Petróleo, quando preparava textos para o teatro ou realizava filmes, e até mesmo quando afirmava, nas páginas do Corriere della Sera, saber os nomes dos responsáveis pelos massacres que tinham ensanguentado a Itália, mas não poder dizê-los, por falta de provas.