A actividade da realizadora franco-libanesa Jocelyne Saab desenvolveu-se entre 1970 e 2019. Desde a sua morte, no dia 7 de Janeiro de 2019, o seu trabalho tem vindo a ser (re)descoberto pela nova geração de realizadores libaneses, árabes e internacionais que proclamam a sua identificação com aquele audacioso cinema político. Testemunha do seu tempo, Jocelyne Saab fez filmes que reescreveram a história do Médio Oriente nos últimos 30 anos do século XX.

Com este título, o coreógrafo, curador e professor na Universidade do Cabo Jay Pather abre caminho para uma viagem por esta cidade — «topograficamente foi aqui que o apartheid foi criado» —, onde «as assombrações, a ironia e o paradoxo estão por todo o lado». Da euforia do tempo inicial de Mandela ao seu desvanecimento, procura-se agora fazer da arte uma energia para «desassombrar a cidade».

O escritor Gonçalo M. Tavares e o grupo de artistas-arquitectos Os Espacialistas, vocacionado para perseguir arquitecturas utópicas, dão a conhecer máquinas humanas que funcionam, não pela necessidade e pela rotina, mas pela imaginação do corpo. Este conceito, que está muito presente nas obras de ambos, será apresentado nas próximas duas edições de Electra. Com este trabalho e modo de publicação, iniciamos uma nova secção da revista: «Folhetim». Nela, acolhemos a antiga tradição editorial de ligar a fidelidade dos leitores com o fio de uma história contada em fascículos sucessivos.

Entre as obras mais originais da teoria queer, está este Manifesto Contra-Sexual, que surgiu há 20 anos assinado por Beatriz Preciado e que agora tem como autor Paul B. Preciado. Trata-se de um filósofo espanhol transgénero, uma figura muito singular, onde teoria e prática queer se concentram numa acção única.

No discurso marxista clássico, a mais-valia é definida como a diferença entre o valor do produto do trabalho e a remuneração necessária à manutenção da força de trabalho — diferença que é apropriada, no sistema capitalista, pelos empresários capitalistas. Neste contexto, o trabalho é concebido como uma mercadoria. Mas, se virmos bem, a mercadoria não é, para Marx, o trabalho. Este é antes o valor de uso da mercadoria peculiar que é a força de trabalho.

Um grande especialista da obra de Guimarães Rosa, o ensaísta e romancista brasileiro Silviano Santiago, escreve sobre a edição portuguesa de Grande Sertão: Veredas, esse romance descomunal, «monstruoso», que tem desafiado gerações de leitores e estudiosos, num trabalho sem fim.

Guerra e Paz, cujo último volume foi publicado em 1869, passam agora 150 anos, é um dos grandes romances universais. Livro de muitos públicos, este épico da literatura russa, romance-matrioska com muitos romances dentro, apareceu rodeado pela contestação e tem uma história cheia, que nos é contada por Dan Ungurianu, professor catedrático de Estudos Russos em Nova Iorque. Esta é uma pergunta insistente que aqui se faz: Porque é tão difícil argumentar contra Guerra e Paz? Ao responder, Ungurianu fala do livro e do seu autor, desenhando de Tolstoi um retrato vivo e exacto.

Obsessão memorial, vaga memorial, cultura memorial: assim tem sido chamado um fenómeno do nosso tempo que consiste numa hipertrofia da memória cujas manifestações são culturais, sociais e políticas. Um conceito ligado à psicologia individual — a memória pessoal que, pelo menos desde Freud, sabemos que é incerta e passível de inconscientes desvios — transferiu-se para um âmbito colectivo e expandiu-se como matéria viscosa e dotada de um enorme poder de atracção. De tal modo que a palavra «memória» se tornou um significante-mestre deste nosso tempo que vive no regime do presente a que o historiador François Hartog chamou «presentismo» (e para esta questão da memória, tal como a tematizamos neste dossier da Electra, as elaborações teóricas deste historiador francês sobre os «regimes de historicidade» são muito importantes; por isso, lhe fizemos a entrevista aqui incluída). Mas este nosso tempo dominado pela categoria histórica do presente é, ao mesmo tempo, obcecado pelo passado.

Professor de historiografia grega e moderna na École des hautes études en sciences sociales, em Paris, François Hartog é um historiador que desenvolveu ao mesmo tempo uma vasta e importante reflexão teórica sobre questões fundamentais da historiografia e sobre as diferentes modalidades da experiência do tempo que definem cada época. O pensamento da História como disciplina e o próprio conceito de História são importantes contribuições de Hartog que se estendem a todo o campo das ciências humanas.

Bernd Stiegler, um importante teórico e historiador dos media, autor de vários livros sobre a fotografia e professor na Universidade de Constança, traça neste texto a história de uma redescoberta progressiva, no século XX: votada até bastante tarde ao esquecimento, a fotografia passou a ser um bem cultural e tornou-se imperativo preservar o património fotográfico.