Assunto
Velocidade

Entre os muitos nomes que têm sido usados para designar a sociedade em que vivemos (sociedade do espectáculo, sociedade dos simulacros, sociedade do risco, etc.), poderia constar ainda uma outra classificação: a sociedade da velocidade. A aceleração técnica da modernidade, que nos tempos mais recentes, com a informática e as tecnologias digitais, chegou ao seu estádio extremo que é a velocidade da luz, tornou-se o fenómeno mais determinante tanto das transformações sociais e culturais como das nossas formas de vida. A experiência do tempo marcada pela velocidade tornou-se uma vertigem e uma espiral. Tudo, da circulação do dinheiro à informação, do regime do trabalho às actividades de lazer, tem funcionado a uma velocidade crescente e sem recuo, conduzindo a uma situação responsável por duas emblemáticas doenças do nosso tempo: uma, físico-psíquica, designada com o nome inglês de burnout, e outra, de feição sócio-política, que tem um nome antigo, mas roupagens novas, chamada alienação. Em nome da nossa saúde e da saúde do planeta surgiram os apelos ao slow. Não foram no entanto esses apelos que motivaram uma espectacular interrupção desse movimento que todos julgavam irreversível, a não ser sob a condição de uma catástrofe natural: a desaceleração deu-se sob a égide de um vírus que se difundiu à escala global. Foi o suficiente para se experimentar na prática o que já se sabia em teoria: que a aceleração do mundo em que vivemos, uma vez interrompida, faz com que tudo entre em colapso. Da velocidade, podemos dizer que é um fenómeno social total. A ela é dedicado o «Assunto» deste número da Electra.