Casas. As casas sempre foram marcantes na vida e na obra de Henry James. Em 1906, reflectindo sobre o romance The Portrait of a Lady [Retrato de Uma Senhora], James comparava o livro a «uma casa quadrada e espaçosa». A casa era também a imagem do romance em si mesmo: um edifício que tem «não uma janela, mas um milhão de janelas — todas as janelas possíveis, aliás, um número incontável de janelas», que se abrem para «vastos campos, panoramas da humanidade». Pela mesma altura, numa carta ao seu agente a propósito da escolha de uma fotografia para o frontispício da edição revista do romance, sugeria «a vista de uma mansão rural inglesa» (a Hardwick House, na margem do Tamisa, perto de Pangbourne) «em que pensei vagamente talvez para abrir o Retrato».
No livro Portrait of a Novel: Henry James and the Making of an American Masterpiece, Michael Gorra nota que esta casa se situa «numa elevação de terreno pouco acima da linha de água, à beira de uma colina íngreme que se ergue nas traseiras; a vista do rio e dos campos cercados de sebes, que se pode observar da outra margem, pouco terá mudado desde o tempo de Henry James […]. Aqui o Tamisa é sereno e, nos primeiros capítulos do romance, James conta que Ralph [Touchett] e Isabel [Archer] passavam horas num barco a remos; um artigo da Country Life publicado em 1906 afiança, de resto, que “não há trecho do Tamisa mais belo do que este, coroado pelo declive de Hardwick”».
Os cadernos de Henry James estão repletos de nomes para mansões imaginárias. Em 17 de Abril de 1900, por exemplo, anotou esta lista: «Waterworth, Waterway, Pendrel, Pendrin, Cherrick, Varney, Castledene, Coyne, Minuet, Fallows, Belshaw, Quarrington, Dammers, Beldom, Deldham, Tangley».
Até aos cinquenta e quatro anos, porém, Henry James não teve casa própria; viveu sempre em casas alugadas. E se ter uma casa sua foi um passo decisivo na sua vida, o facto é que viria a ter repercussões muito interessantes também na sua obra.
Num sábado à tarde, há vinte anos — estava eu a acabar uma primeira versão do meu romance O Mestre, que é sobre Henry James —, fui a Rye (no East Sussex, em Inglaterra) conhecer a Lamb House, a mansão que James arrendou em 1897 e onde viveu até quase à sua morte, em 1916.
Era a casa dos seus sonhos. James, que tinha veraneado na região, passara muitas vezes por esta casa, observara os tijolos já sem cor, adivinhara um passado rico em história, reparara na sua imponência sem espalhafato. Palmilhara as ruas da cidade de Rye perguntando aos residentes mais afáveis se havia alguma casa para alugar. O ferreiro tomara nota do endereço de James em Londres e prometera contactá-lo se soubesse de alguma propriedade que se lhe quadrasse. Escreveu-lhe depois a informar que a Lamb House estava disponível e James apressou-se a ir a Rye e a arrendar a casa.
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