Assunto
O trabalho, o lazer, o ócio: uma santíssima trindade
António Guerreiro

O dossier que apresentamos neste número da Electra tem como tema dois conceitos, o ócio e o lazer, com uma longa história, feita de desvios e deslocações. A nossa perspectiva incide sobre a condição contemporânea do lazer e do ócio, embora conscientes de que o significado actual desse par dicotómico não pode ser devidamente compreendido se não regressarmos a um tempo que já não é o nosso, do qual estamos distantes. Na verdade, estas duas entidades, que já foram radicalmente distintas, na sociedade moderna tendem a sobrepor-se, apenas com algumas ligeiras diferenças: enquanto o lazer é entendido como um intervalo no ritmo do trabalho, o ócio evoca uma condição existencial ou uma característica psicológica de conotações negativas. Daí o adjectivo «ocioso», formado com um sufixo que indica uma qualidade. A antiga dicotomia desfez-se e transferiu-se para um outro par muito mais pertinente, para a relação entre trabalho e lazer, cuja alternância determina a sociedade do trabalho.