Livro de Horas
O pior não veio, o ruim talvez comece a passar
Rodrigo Nunes

As primeiras duas semanas após o primeiro turno foram de ansiedade e tensão; nunca uma vitória teve tanto sabor a derrota, um gosto amargo de que novamente a realidade nos atingia desde um ponto cego. Eu nunca acreditara que as coisas fossem tão fáceis quanto as pesquisas sugeriam, mas ainda assim tomara um susto quando os resultados de lugares como São Paulo e Rio de Janeiro começaram a sair e a força do bolsonarismo, mesmo após quatro anos de um Governo que parecia tão auto-evidentemente desastroso, se mostrou bem maior que o imaginado. A ilusão que muita gente alimentava — de que ainda vivíamos essencialmente no mesmo país que elegera quatro governos sucessivos de centro-esquerda, de que tudo poderia voltar ao que era e de que este não seria mais que um hiato ruim — se desfizera de vez.