É uma obra imensa, atravessando vários campos disciplinares, aquela que justifica esta entrevista a Boris Groys. A filosofia, a estética, a crítica, a história da arte e a teoria dos media são os territórios onde se move este autor que se tem ocupado com um enorme saber e originalidade da arte contemporânea, do seu sistema e das suas instituições. Nascido em 1947, na antiga República Democrática da Alemanha, Boris Groys cresceu na União Soviética, estudou matemática, lógica e linguística e levou para a República Federal da Alemanha, para onde foi viver em 1981, um profundo conhecimento das vanguardas russas e da arte soviética. As relações entre a arte e a política, e entre o artista e a sociedade, são um objecto privilegiado deste professor da importante Escola Superior de Artes e Design de Karlsruhe (1994–2009) e hoje da Universidade de Nova Iorque.

Nesta entrevista, o consagrado filósofo Boris Groys fala sobre a questão do novo — um tema que tratou com enorme argúcia no livro Über das Neue. A entrevistadora, Catarina Pombo Nabais, é autora do livro Philosophical Conversations – Towards Self-Design, que é uma longa conversa com Groys.

Cada época tem as suas necessidades, as suas problemáticas, os seus desejos, obsessões, e um vocabulário onde tudo isso se polariza. Mas uma diferença marca este tempo que é o nosso: nunca tinham sido tão poderosos os meios de difusão e a amplificação de palavras fetiches que têm um valor ideológico.

Uma afirmação de Michelet, cheia de enigmas e evidências, é comentada por Maria Filomena Molder, que inaugura esta secção dedicada a frases muito citadas ou que despertam a vontade de citar.

O mais importante crítico literário italiano, Alfonso Berardinelli, que deu uma importante entrevista para a Electra 20, escreve nesta edição sobre Italo Calvino, o grande escritor, que, informado pelo estruturalismo, levou a narrativa, o conto e as formas breves, a um grau supremo de construção literária.

Entrevista com o artista e escritor Camille de Toledo, onde, a propósito da arte contemporânea, se fala do cinismo da arte, dos curadores, da indefinição de «contemporâneo», mas sobretudo do tempo potencial que rompe com o tempo bloqueado do «presentismo» e da arte potencial que recusa o «melancolismo» estético e o discurso das finitudes.

Nos quinhentos anos da incerta data do nascimento de Luís de Camões, José Augusto Bernardes, convidado pela Electra, escreve sobre a vida e a obra do grande poeta português, falando também das políticas da memória, do ensino da sua obra e do contributo de Camões para a ideia moderna de literatura. Este professor e investigador coordenou o Centro Interuniversitário de Estudos Camonianos e foi director da Biblioteca-Geral da Universidade de Coimbra. É o comissário-geral das Comemorações do V Centenário do Nascimento de Luís de Camões. Tem uma vasta obra sobre autores e temas literários, nomeadamente do século de ouro português.

Nick Srnicek, um canadiano professor no King’s College de Londres, é um dos autores do «Manifesto Aceleracionista» e de um livro onde projecta um futuro pós-capitalista, liberto da ordem do trabalho. Por sua vez, Helen Hester é membro fundador de um colectivo responsável pelo «Manifesto Xenofeminista». Escrito por ambos, este texto ocupa-se de um tipo de trabalho que geralmente não está no cálculo político ou na investigação sociológica: o trabalho não assalariado da reprodução social que consiste em limpar, cuidar, cozinhar, etc.

«Estudiosos e especialistas consideram Gadda um autor clássico do século XX, ombreando, no panorama internacional, com gigantes como Proust, Musil, Joyce, Pessoa, Céline, Nabokov ou Beckett», lembra-se aqui. É sobre o grande escritor Carlo Emilio Gadda, que nasceu em Milão em 1893 e morreu em Roma em 1973, que escreve Lucca Mazzocchi, falando da sua obra, labiríntica e complexa, e da recepção dela. Professor nas universidades de Milão e de Oxford, Mazzocchi é especialista em literatura italiana do século XX, tendo estudado sobretudo a obra de Gadda, um autor que existe para ser descoberto.

Entrevista a Carlo Ginzburg, onde o historiador italiano fala do seu percurso intelectual e dos «casos» e acasos que marcaram toda a sua investigação e o tornaram um dos nomes mais importantes, à escala mundial, da historiografia contemporânea. Mas também o contexto em que esteve inserido desde a infância, no centro do riquíssimo ambiente cultural e literário italiano do pós-guerra, é evocado nesta conversa.