Frank Furedi é professor emérito de Sociologia na Universidade de Kent. A ele se deve uma sociologia do medo, que inaugurou em 1997, com um livro intitulado Culture of Fear: Risk-Taking and the Morality of Low Expectation. Nessa altura, «cultura do medo» era um conceito novo e até um pouco estranho, o que dava ao livro o aspecto de pioneiro. Furedi procurava então explicar que a preocupação com a segurança se tinha tornado tão obsessiva na nossa sociedade que se criou uma alergia ao risco e, por conseguinte, desenvolveu uma atitude de recuo em relação a novas experiências e ao desconhecido: afastar-se de todo o risco, escreve Furedi, significa anular o espítito de exploração e experimentação. Um exemplo da atitude de tipo paranóico perante o risco, encontra-a o autor de Culture of Fear na hiperprotecção a que os pais submetem os filhos. Passou a ser até mal visto, senão mesmo prova de negligência, deixar os filhos irem sozinhos para a escola. A cultura do medo tem ainda outra consequência: a divergência entre a percepção e os factos, entre o perigo real e o perigo construído como um fantasma. No limite, o problema não é o medo de qualquer coisa, mas o medo do medo, isto é, o medo que se torna um problema em si mesmo. Esta forma autotélica da propagação do medo determina que «a única coisa de que devemos ter medo é da cultura do medo», isto é, a cultura que redefine todos os problemas usando a gramática do medo, de efeitos comprovados: afasta as pessoas, produz uma atmosfera de suspeição e encoraja um estilo depressivo de autodefinição muito presente na cultura contemporânea.
Cerca de vinte anos depois de Culture of Fear, é publicado How Fear Works: Culture of Fear in the Twenty-First Century. Neste livro, Furedi prossegue a sua investigação sociológica, tentando compreender o modo como se manifesta o medo no século XXI. Verifica então que se acentuou o uso da retórica do medo e que este se tornou o principal instrumento de uma ideologia. A regra do medo, agora, é a da amplificação de algumas ameaças de maneira desproporcionada em relação aos perigos reais. E, por outro lado, existe a tendência para tratar no âmbito médico-psicológico os problemas que dantes eram considerados problemas morais ou existenciais.
Nesse intervalo de vinte anos, a «cultura do medo» avançou de maneira cada vez mais poderosa e expandiu-se à medida que emergia uma consciência trágica de que a sociedade e a própria humanidade estão confrontadas com a ameaça de forças destrutivas. A cultura do medo no século XXI é determinada por uma explosão de novos perigos que convocam nomes de grande peso: apocalipse, colapso, catástrofe. A imaginação colectiva trabalha actualmente para a pior hipótese possível, a que provoca mais medo: a hipótese de que o futuro é negativo ou, até, de que não vai haver futuro. Tornámo-nos uma sociedade presentista, separada do passado e assustada com o futuro. Resultado: o medo tornou-se a perspectiva cultural dominante.
A partir do final dos anos 90, segundo a cronologia traçada por Frank Furedi, deu-se uma politização do medo. Em The Politics of Fear. Beyond Left and Right, um livro de 2005, há a afirmação de que todos os partidos adoptam a política do medo, mas cada um escolhe o «seu» medo. O problema da imigração é o medo preferencial dos partidos de extrema-direita e populistas. Os partidos de esquerda, por sua vez, elegem o medo da extinção da humanidade. Seja como for, o medo é essa «big thing» que o nosso tempo fez emergir como uma cultura.
É de todas estas questões desenvolvidas nos seus três livros sobre o tema do medo que fala Furedi nesta entrevista.



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